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Campina Grande, a cidade que acolheu e projetou Jackson do Pandeiro

Após a morte de seu pai em 1932, Jackson do Pandeiro, sua mãe e seus irmãos saíram de Alagoa Grande com destino a Campina Grande em busca de melhorias financeiras. O então adolescente de 12 anos de idade, ainda chamado de José Gomes Filho, trabalhou como engraxate e entregador de pão durante algum tempo, mas aos poucos a Rainha da Borborema acolheu e fez despertar o Jackson que futuramente seria seu Rei do Ritmo.

Por Bruna Couto*

Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga

Passados sete anos de sua mudança para Campina, “Jack do Pandeiro” formou uma dupla com o irmão mais velho de Genival Lacerda, José Lacerda, e se estabeleceu no cenário musical da cidade. Aos poucos as apresentações nos tradicionais clubes campinenses, como no Cine Eldorado, projetaram Jackson como um dos artistas mais promissores lançados por Campina Grande.

Jackson continuou em Campina até os 27 anos de idade. À cidade, ele dedicou composições de sucessos, como Alô Campina Grande, Bodocongó, Forró em Campina e diversas menções em programas e shows realizados em todo o País. Mesmo depois de se mudar para João Pessoa, em 1947, e em seguida para o Rio de Janeiro, onde alavancou sua carreira, a vida e obra do Rei do Ritmo se imortalizaram na cidade paraibana.

Fernando Moura, escritor e pesquisador da vida e obra de Jackson, ressalta a importância de Campina Grande na trajetória do artista, e vice-versa. Para ele, Alagoa Nova, cidade onde Jackson nasceu, foi onde ele teve as primeiras noções de sonoridade – ainda com sua mãe, que era coquista. Mas Campina foi a grande escola sonora de Jackson por ter possibilitado os primeiros encaminhamentos musicais efetivos do artista, fazendo com que ele, segundo Fernando, pudesse “domar” noções rítmicas que até então eram novas no cenário artístico nordestino.

De acordo com Fernando, em sua passagem pela Rainha da Borborema Jackson conheceu e experimentou vários gêneros musicais americanos, como o jazz e o swing, fazendo com que ele absorvesse isso em seu “DNA” musical para que, assim, pudesse ter uma concepção sonora diferente. Isso só foi possível porque, na época, a noite campinense era conhecida em todo o Nordeste por possuir meios de entretenimento parecidos com os de cidades europeias.

Para Fernando, as comemorações do centenário de Jackson engrandeceram sua importância para a música brasileira. Em Campina Grande, as escolas públicas e privadas, principalmente, souberam aproveitar o período para apresentar o artista à nova geração, que, para ele, teve a oportunidade de se conhecer a si próprio, como nordestino e ser cultural, a partir das referências apresentadas por Jackson em e à Campina.

“Ele tem clássicos autobiográficos sobre Campina, músicas que ele fez sozinho e que são consideradas o retrato de Jackson do ponto artístico e musical. A cidade pode ouvir o Jackson que cantou todos os ritmos brasileiros e conhecer sua história no maior acervo sobre ele, que fica no Museu de Arte Popular da Paraíba. Conhecer Jackson é se entender enquanto sociedade cultural”, comentou Fernando.


 

Hoje, os campinenses podem conhecer a relação do artista com a cidade através de monumentos, como a obra Farra de Bodega, de Joás Pereira Passos, que fica às margens do Açude Velho. No ano em que se comemoram os 100 anos de nascimento de Jackson, a 36ª edição do Maior São João do Mundo também o homenageou.

Dentre os vários reconhecimentos, também está a obra Jackson é 100, Jackson é Pop, exibida desde junho no Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), conhecido como Museu dos Três Pandeiros – mais uma referência à Jackson. Na 11ª edição do Troféu Gonzagão, que aconteceu no dia 21, e no Festival de Inverno de Campina Grande, os 100 anos do artista que reverenciou as belezas da Rainha da Borborema na arte e na vida também foram reconhecidos.

Depois de tanto tempo da passagem de Jackson aqui, é possível ter dimensão da carga artística que o menino que Campina ajudou a projetar possuía. Foram 435 composições, e dessas, oito têm letras relacionada às histórias vividas pelo Rei do Ritmo na Rainha da Borborema.