De Olho no Mundo, por Ana Prestes 

A cientista política e especialista em relações internacionais, Ana Prestes, destaca nesta quarta-feira (28), a crise causada pela prepotência do presidente Jair Bolsonaro no trato com países que denunciaram a responsabilidade do governo brasileiro com as queimadas e desmatamentos na Amazônia. Em reunião nesta terça-feira (27), ele voltou atrás e fez outro discurso. A articulista destaca ainda, o quadro político do dia, na América Latina.

Bolsonaro durante reunião com governadores no Planalto. - Foto: Marcos Correa/PR

Bolsonaro recuou e parece ter percebido que não estamos em tempo de rasgar dinheiro, já cogita receber os 20 milhões de dólares de ajuda oferecida pelo G7 para a crise na Amazônia. Há um “porém”, “o senhor Macron deve retirar os insultos que fez à minha pessoa”, disse o presidente. Depois foi a vez do porta-voz Otávio Barros dizer eu qualquer apoio financeiro vindo do exterior é bem vindo, desde que a governança dos recursos seja do governo brasileiro. No fim do dia (27) também foi anunciada a chegada de 10 milhões de libras esterlinas vindas do Reino Unido. Trump também não ficou de fora e deu mais uma tuitada apoiando Bolsonaro e seu “ótimo trabalho para o povo do Brasil”.

Na volta do G7, Piñera, presidente do Chile, deu uma passadinha no Brasil e se reúne hoje com Bolsonaro em Brasília.

Os presidentes de países com território amazônico devem se reunir no dia 6 de setembro em Letícia, na Colômbia. A Venezuela, que também possui território na Amazônia não foi convidada. O chanceler da Venezuela foi o primeiro a propor uma reunião da OTCA (Organização do Tratado da Cooperação Amazônica) diante da crise ambiental que atinge Brasil, Bolívia e Paraguai.

Um relato da reunião entre o FMI e a Frente de Todos na Argentina conta que o FMI se demonstrou preocupado com o atual “vazio de poder” do país e que o candidato Alberto Fernández e demais interlocutores representantes da Frente apontaram para o fato de que o acordo com o FMI não melhorou os indicadores econômicos, sendo que desde então a economia caiu 1,7%, a dívida pública subiu 29 pontos percentuais, o desemprego aumentou 10,1%, a pobreza foi a 32% e a inflação disparou para 53,9%. Ao pedir “garantias” de pagamento da dívida caso vença as eleições, Fernández teria apontado que não as pode dar por ser ainda um candidato e que qualquer compromisso de pagamento deve vir com renegociação de prazos e sem imposição de metas ou reformas. A Frente de Todos parece ter deixado claro não compactuar da ideia de que “Governo, FMI e oposição estão todos em um mesmo barco”, escreveu Julián Guarino, autor do relato.

Ainda sobre Argentina e FMI, o próprio Fernández também publicou um comunicado sobre a reunião. Entre outras coisas, o candidato líder das pesquisas disse que ao se dirigir ao representante do FMI, Alejandro Werner, o informou do fato de ser “um advogado educado em uma família cujo pai era um Juíz da Nação, que ensina direito há mais de 30 anos e que cultiva o respeito às normas”, diante disso, não entende como o FMI “tenha atuado e ainda atue com aberta violação do artigo VI da Ata Constitutiva do FMI cujo primeiro parágrafo diz que: nenhum membro poderá utilizar os recursos gerais do Fundo para fazer frente a uma fuga considerável ou contínua de capitais”.

Macri parece já reconhecer uma possível derrota. Ontem (27), em um evento da Coninagro (Confederação Intercooperativa Agropecuária Limitada), apontou para a necessidade de sustentar algumas reformas iniciadas por sua gestão e disse que se lhe couber ser oposição, apoiará algumas medidas do próximo governo. Admitiu também frustração nos últimos 4 anos em alguns aspectos. As palavras de Macri vieram um dia após a divulgação de mais uma pesquisa de intenções de votos, realizada pela consultoria Gustavo Córdoba e Associados. Segundo a pesquisa, sem contar os votos em branco, Fernánez e Kirchner têm 53,2% das intenções de voto e Macri e Picheto estão com 32,1%.

Outra pesquisa de intenções de voto, mas na Bolívia, foi divulgada esta semana e aponta uma vantagem de 17,5% de Evo em relação a Carlos Mesa. Evo aparece com 40,8% das intenções, Mesa com 23,3% e o candidato da extrema direita, Óscar Ortiz, com 10,8. Evo enfrenta neste momento uma grave crise com os incêndios florestais, que também atingiram o Paraguai e o Brasil. Quarta-feira (27) ele se integrou uma vez mais ao Gabinete de Crise Ambiental que está funcional na região de Chiquitania, no estado de Santa Cruz. Dados do governo apontam que 4 mil servidores, voluntários e brigadistas foram mobilizados em todo o país para atender a crise, além de cinco aeronaves e mais de 200 veículos. A informação de ontem era de que dos cerca de 8 mil focos de incêndio, restavam 1036. Com o avião Supertanker, aviões de pequeno porte e helicópteros foram utilizados 1.892.320 litros de água.

O primeiro ministro britânico, Boris Johnson pediu à Elizabeth II a suspensão do parlamento até 14 de outubro. Caso isso ocorra, fica exíguo o tempo para qualquer medida parlamentar que impeça um Brexit duro, abrupto e sem acordo em 31 de outubro.

E o dólar ontem foi a R$ 4,19. Maior cotação em 11 meses.