Polêmicas começam a desidratar imagem de Bolsonaro, aponta pesquisa 

O estilo agressivo e controverso de Jair Bolsonaro (PSL) – considerado uma das alavancas de sua vitória nas eleições de 2018 – começa a se virar contra o presidente. Até mesmo os brasileiros que ainda o apoiam revelam desgosto com o “excesso de propostas polêmicas e caneladas verbais”. É o que aponta um levantamento do Instituto FSB Pesquisa, encomendado pela revista Veja e realizado com 2 mil pessoas de todo o Brasil, por telefone, de 16 a 18 deste mês.

Por André Cintra

Pesquisa Veja/FSB

Em oito meses de governo, 48% dos brasileiros reprovam a forma como o presidente governa, ante 44% que concordam com o estilo bolsonarista. Para 68%, as declarações explosivas de Bolsonaro “prejudicam em algum grau o andamento do governo”. Destes, 49% dizem que as bravatas atrapalham muito. Um a cada quatro entrevistados afirmam que nenhuma área melhorou nessa gestão.

A pesquisa – vale lembrar – foi feita antes da crise aberta por Bolsonaro com suas afirmações desastrosas sobre as recentes queimadas na Amazônia. Mas já está claro que “o comportamento irrefreável do mandatário, repleto de ofensas, fake news e temas já superados na cena política brasileira, vem chamuscando sua imagem”.

“Uma parte de Bolsonaro é reprovada com força pelos brasileiros – até entre os que o apoiam. Curiosamente, é a porção polêmica da personalidade do capitão, a mesma que o ajudou a chegar ao poder como o único capaz de ‘peitar’ o PT e o establishment político. Funcionou na campanha, mas não repete o sucesso agora”, registra a edição da Veja que chega às bancas nesta sexta-feira (23).

Conforme a revista, “as pessoas não estão satisfeitas com o estilo Bolsonaro de governar, com sua insistência em impor algumas pautas controversas como a flexibilização da posse e do porte de armas e, principalmente, com as declarações bizarras em série que se habituou a disparar no Palácio do Planalto”.

E por que, apesar dessas divergências, o governo Bolsonaro ainda tem cerca de um terço de aprovação dos brasileiros? Três especialistas dão sua opinião à revista Veja. “Temos apenas oito meses de governo. As pessoas ainda não estão julgando resultados, mas as expectativas”, afirma o jornalista e analista político Alon Feuerwerker, coordenador da pesquisa. “Quando toda a fumaça se dispersar, a avaliação de seu governo dependerá dos resultados concretos de sua administração.”

Jairo Nicolau, professor da UFRJ, concorda, mas cita a força remanescente do clima polarizado de 2018: “Essa foi uma eleição de hiperexposição. Muita gente se indispôs em seus grupos pessoais e familiares. Há um custo bem alto para que essas pessoas digam que o governo acabou com oito meses, embora já possam ter críticas à gestão”.

Já Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, lembra que as polêmicas de Bolsonaro ainda alimentam sua base – sobretudo nas redes sociais –, além de confundir e dificultar eventuais respostas à altura da oposição. “São minibombas que Bolsonaro joga na sociedade. Assim, dificulta uma reação coordenada contra ele e fortalece a plateia a quem se dirige.”

Desemprego

Na sondagem Veja/FSB, os entrevistados citaram três áreas que mais pioraram desde o início do governo. Como é comum em levantamentos do gênero, a saúde pública (38%) e a educação (30%) seguem “historicamente mal avaliadas”. Mas o tema que parece revelar mais potencial para erodir o capital político-eleitoral de Bolsonaro é o desemprego. De acordo com a pesquisa, o flagelo da falta de trabalho é mencionado por 31%. Há, atualmente, 12,8 milhões de trabalhadores sem ocupação nenhuma no País.

Como Bolsonaro e sua equipe se revelam incapaz de enfrentar o desemprego com propostas factíveis, de médio e longo prazo, a pressão sobre seu governo deverá crescer. “Com o passar do tempo, as pessoas vão atenuar a culpabilidade do PT sobre a crise econômica e exigirão mudanças vindas dele. Se elas se cansarem da economia, a paciência com as bobagens ditas pelo presidente poderá acabar”, comenta o cientista político Alberto Almeida.

Algumas bandeiras de Bolsonaro são amplamente rechaçadas pela população: 56% rejeitam a posse de armas e 78% discordam do porte. Na semana em que o governo anunciou seu primeiro pacote privatista, os brasileiros se mostraram majoritariamente contrários à venda das estatais federais: nada menos que 59% dos brasileiros são contrários às privatizações. É muito provável que, se Bolsonaro insistir em priorizar essa agenda, em detrimento de demandas como o crescimento econômico e a geração de empregos, a rejeição a seu governo crescerá ainda mais – e em pouco tempo.