A teoria sem a prática de nada vale, a prática sem a teoria é cega

Presidenta do PCdoB de Três Ponta escreve sobre importância da formação aliada à prática cotidiana. 

Escolhe-se aqui correr o risco de parecer clichê, entretanto, não seria possível encontrar um título mais condizente com a proposta do presente texto que não fosse a famosa citação de Vladimir Lênin. 
 
Observa-se um momento crucial da história do Brasil onde em pleno curso de um golpe bem arquitetado e protagonizado por diversos personagens da política, mídia e alguns setores da economia, se percebe uma tática eficaz e sistematizada sendo utilizada para desacreditar a população, enfraquecer as instituições e destruir a democracia. É o momento em que a extrema direita fascista age da mesma forma que agiu em outros momentos, criando líderes que devem ser obedecidos cegamente, promessas de resoluções simplórias para problemas estruturais e extremamente complexos. 
 
Criam inimigos na cabeça da população e caçam direitos na surdina enquanto os trabalhadores estão entretidos com a farsa “encenada” nas redes sociais através de memes de fake News. Diante dessa situação começam a surgir sujeitos conscientes e engajados dispostos a lutar e a resgatar a democracia a qualquer custo. 
 
Esses sujeitos podem estar em qualquer esfera da população. Estão nas fábricas, no campo, nas escolas e universidades, na igreja, no bairro. São líderes em seus ambientes e por viverem a realidade daqueles que os cercam costumam ser acreditados em seus discursos de modo que os movimentos sociais e sindicais vão se desenvolvendo, se fortalecendo e novos ambientes de luta vão se formando. 
 
Nesse momento podem surgir pautas diversas e foco em múltiplas direções que muitas das vezes não condizem com o objetivo. O papel do partido torna-se crucial na orientação desses movimentos. Rossi (2015) alerta que: A ingenuidade do pensamento idealista, que não percebe nas diversas realizações a atuação intencional de homens e mulheres, não possui consciência histórica, pois está presa no imediatismo reformista do ter, ou melhor, do ser em função do ter. 
A especulação e privatização dos diversos e múltiplos setores da vida acabam por produzir uma consciência que não possui as bases para se encarar como sujeito histórico, apenas sujeito determinado (ROSSI, 2015. P.139). Entende-se que esses sujeitos engajados na luta política e social têm ânsia pela luta e certa obsessão por resultados imediatos. 
 
Entretanto, podem ocorrer ações desordenadas que a priori seriam ideias excelentes que acabam caindo por terra por falta de bases sólidas para a ação. Pensando em evitar o desperdício de boas ideias e quadros políticos importantes, bem como a contradição ao defender princípios e ideais, a Comissão Provisória do PC do B da cidade de Três Pontas, no Sul de Minas segue a mais de um ano uma rotina de estudos concomitante a discussão de ações realizadas pelos membros do partido no município. Ocorrem reuniões mensais com data fixa no segundo sábado de cada mês e são abertas aos filiados do partido, bem como aos militantes da UJS e simpatizantes.

Cada reunião tem a duração de duas horas, sendo que na primeira hora ocorre o momento teórico com a discussão orientada de um texto que deve ser previamente lido por todos os participantes. Os temas variam entre política, filosofia, sociologia e economia. Algumas leituras são mais densas e de difícil compreensão para iniciantes por isso geralmente o mediador do debate é um membro com formação em alguma área correlata ou estudante que concentre seus estudos no tema. Já foram realizadas leituras importantes como “O que fazer” de Lênin, “Os cadernos do Cárcere” de Gramsci, alguns textos de Celso Furtado para a discussão da economia brasileira e é claro Karl Marx que dentre seus livros já se discutiu “18 de Brumário de Luis Bonaparte”, “O Manifesto do Partido Comunista” e alguns textos de “O Capital” como “Maquinaria e grande indústria” e “A Mercadoria”. O segundo momento da reunião se concentra em questões locais que merecem atenção do partido, como o comportamento diante de posicionamentos fascistas e a responsabilidade que a opinião que cada um emite carrega, visto que representa não somente opinião pessoal, mas também a organização política que está inserido, nesse caso, o Partido Comunista do Brasil.

Graças às leituras anteriores, os momentos de discussão da prática têm sido produtivos, onde tem se buscado aplicar a teoria na prática. Duas importantes ações já foram concretizadas. Inspirados pelos textos da CTB que explica a Reforma da Previdência, criamos outro que fala direto com os trabalhadores rurais, respeitando o palavreado e regionalismos, bem como abordando o problema da mulher camponesa que só trabalha durante a colheita. Outra ação foi a criação de um cursinho preparatório pra a realização da prova do ENCEJA, onde trabalhadores que não tiveram oportunidade de estudar podem frequentar as aulas noturnas ministradas por membros do partido. E assim seguimos firmes na busca pelo conhecimento da teoria e análise minuciosa da realidade em que a teoria se aplica na prática.

Referências:

LENIN, V. I. Kommunismus (12 de junho de 1920). In: ______. Opere complete. Roma: Editori Riuniti, 1967. v. XXXI.
ROSSI, R. Marx e o Marxismo-Revista do NIEP-Marx, 2015. Disponível em: niepmarx.blog.br

*Gislene A. Alexandre, estudante de economia, membro do Laboratório de Estudos sobre o trabalho e os(as) trabalhadores (as)- LETT, UNIFAL-MG. Presidente PC do B em Três Pontas.