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Procissão das Sanfonas homenageia Jackson do Pandeiro, Gonzagão e Raul

No dia em que a morte de Luiz Gonzaga (1912-1989) completou 30 anos, a 11ª Procissão das Sanfonas percorreu o Centro de Teresina (PI) à base de sanfonas, zabumbas, bonecos e chapéus de cangaceiro. O tradicional evento reuniu centenas de pessoas nesta sexta-feira (2), em caminhada da Igreja Catedral de Nossa Senhora das Dores, na Praça Saraiva, rumo ao Museu do Piauí. Esta edição homenageou os “Três Reis da Música Nordestina”: Raul Seixas, Jackson do Pandeiro e o próprio Gonzagão.

Procissão das Sanfonas

O início do périplo já é marcante, com a Ave Maria Sertaneja, de Luiz Gonzaga. “Ave Maria / Mãe de Deus Jesus /Nos dê força e coragem / Pra carregar a nossa cruz”, reza o padre, aspergindo água benta nos sanfoneiros e nas sanfonas, nos outros músicos e em seus instrumentos, bem como no público presente à igreja. A edição deste ano, batizada de “Viva o Sertão Alternativo”, é especial: em agosto, além dos 30 anos sem o Rei do Baião, lembramos as duas décadas sem o “maluco beleza” Raul Seixas e o centenário de nascimento do paraibano Jackson do Pandeiro.

Depois de sair da catedral, o público avançou pelo calçadão da Rua Simplício Mendes, em meio a bonecos gigantes de Luiz Gonzaga, Padre Cícero, Lampião e Maria Bonita. Durante o trajeto, foram homenageados os “gonzaguianos” que representam a diversidade do sertão alternativo e colaboraram para a realização da Procissão – eles receberam troféus criados pelo artista piauiense Álvaro Roberto Carneiro, em parceria com o pirógrafo José Francisco Lima. No trecho final, no Museu do Piauí, houve homenagens e apresentações musicais.


 

A procissão mobiliza pessoas de diferentes idades. Arthur Matos, de 3 anos, participa da procissão com os pais desde que nasceu. “Essa é a terceira edição que ele vem. Queremos que ele conheça o mundo, mas sabendo de onde ele veio”, disse a mãe do jovem nordestino, a professora Leila Matos.

A caminhada também atrai amantes da cultura do Nordeste. O músico Marinaldo do Forró, por exemplo, é presença garantida no evento. “Só não vim para as duas primeiras edições porque estava em São Luís (MA), trabalhando. Isso aqui é a nossa cultura – a nossa essência, o nosso ritmo”, disse o músico, sem parar de tocar sua zabumba.


 

Com 50 anos de sanfona, Joel Floriano, 65, veio de Piripiri para participar da procissão. “A sanfona é minha vida, é meu pão de cada dia”, afirmou, com um sorriso no rosto, sendo logo chamado pelos companheiros a puxar o toque da sanfona.

Dando ritmo à procissão e puxando o passo e coro dos grandes hinos da música nordestina, as mulheres mostraram a que vieram. Ao som do triângulo, a cantora Thelminha Stourada comemorou a sua terceira vez na caminhada. “Mostrar que ser nordestina é ter o sangue quente, é ser forte e arretada ainda mais sendo mulher”, contou.

Personalidades culturais do Piauí – como Lazaro do Piauí, Benício Bem e Cineas Santos – marcaram presença no evento. Um bloco de pessoas cadeirantes mostrou que mesmo com as dificuldades de acesso é possível participar da festa.


 

O professor Wilson Seraine, idealizador do evento e estudioso da vida e obra de Luiz Gonzaga, comemorou com orgulho a 11ª edição. “Nosso evento é pioneiro no Brasil. Temos que manter vivas as memórias desses artistas que tanto contribuíram para a cena cultural nordestina e valorizarmos essa manifestação cultural que é tão peculiar”, disse. “Gonzaga, o baião, o forró é nossa história. Nada melhor do que celebrar a história no Museu do Piauí.”

O secretário estadual de Cultura, Fábio Novo, esteve no encerramento da caminhada no museu, que foi finalizada com festa de artistas locais. “A procissão das sanfonas demonstra o amor que nós temos por nossas raízes. É isso que nós traz uma sensação de pertencencimento”.