Nota dos Wajãpi desmente que não há vestígio de invasão na sua terra

A segunda nota do Conselho das Aldeias Wajãpi, divulgada nesta terça-feira (30), diz que os agentes da Polícia Federal (PF) estiveram no local, mas não permaneceram por muito tempo alegando o difícil acesso na floresta para seguir os rastros dos invasores. “Nós Wajãpi continuamos muito preocupados com os invasores que estão na região Norte da nossa Terra Indígena”, alertaram.

Por Iram Alfaia

Wajãpi - Heitor Reali/Iphan

Apesar de documento da Fundação Nacional do Índio (Funai) indicar que um grupo de até 15 pessoas armadas com grosso calibre invadiu a Terra Indígena no Oeste do Estado, o Ministério Público Federal do Amapá divulgou nesta segunda-feira (29) não haver vestígios de que a TI Wajãpi tenha sido invadida por garimpeiros, acusados também como autores do assassinato do líder Emyra Wajãpi.

Como base nas informações da PF, o procurador da República Rodolfo Lopes disse não haver indícios de garimpo na área e nem qualquer resquício de não indígenas. “Nessa área, não há registro de conflito. Não há resquícios de pegadas, marcas de fogueira ou restos deixados”, afirmou durante coletiva à imprensa.

Ele ainda explicou que os 25 policiais da PF e do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foram auxiliados pelos indígenas na região.

A fala do procurador é totalmente conflitante com o novo documento elaborado na própria aldeia e divulgado para diversos canais de comunicação.

Segundo o relato dos indígenas, os policias chegaram no domingo (28) à tarde na aldeia Mariry e seguiram acompanhados deles para a aldeia Yvytotõ onde estariam os invasores. Chegando no local não encontraram ninguém, mas havia rastros dos invasores.

Depois de marcarem os pontos no GPS e tirarem fotos, segundo o relato, os policiais foram levados para outro local onde os invasores estariam escondidos, mas também não havia ninguém. Os policiais informaram a eles que não tinham condições de seguir os rastros apontados e voltaram a Mariry e seguiram para o posto Aramirã, onde chegaram às 21h30.

“No Aramirã, os policiais se reuniram com representantes da Funai, do Apina, das aldeias da região do Aramirã e da Prefeitura de Pedra Branca. Eles falaram que a região da aldeia Yvytotõ é de difícil acesso e que não tinham condições de permanecer lá e dar continuidade às buscas pelas dificuldades de deslocamento e alimentação”, diz um trecho da nota.

Na reunião, o delegado prometeu que iria estudar a região por meio de imagens de satélite para verificar a existência de sinais de garimpo. Caso houvesse confirmação, um sobrevoo seria feito no local. Após esse diálogo, os agentes voltaram para Macapá.

Os indígenas dizem que há muita preocupação e tensão na região. “Nas aldeias as famílias estão com muito medo de sair para as roças ou para caçar. Algumas comunidades saíram de suas aldeias para se juntar com famílias de outras aldeias para se sentirem mais seguras. Por isso nossos guerreiros de todas as regiões da TIW estão se organizando para ajudar os guerreiros da região do Mariry, que continuam procurando os invasores, e pedimos apoio da Funai para isso”.

Leia a íntegra da nota abaixo:

2ª NOTA DO APINA SOBRE A INVASÃO DA TERRA INDÍGENA WAJÃPI

Nós do Conselho das Aldeias Wajãpi – Apina queremos divulgar as informações que temos hoje, dia 29 de julho de 2019, sobre a invasão da Terra Indígena Wajãpi.

Domingo, dia 28/07, as equipes de polícia chegaram à aldeia Mariry no início da tarde e seguiram para a aldeia Yvytotõ acompanhados por nossos guerreiros. Quando chegaram lá, não tinha mais ninguém no local, apenas rastros dos invasores. Os policiais marcaram os pontos no GPS e tiraram fotos. Os guerreiros levaram a equipe da polícia até um local onde os invasores tinham se escondido no dia 26, mas lá também não tinha mais ninguém. Depois disso, os policiais disseram que não poderiam procurar os invasores dentro da mata seguindo os rastros que mostramos e voltaram para a aldeia Mariry e depois para o posto Aramirã, onde chegaram por volta das 21h30.

No Aramirã, os policiais se reuniram com representantes da Funai, do Apina, das aldeias da região do Aramirã e da Prefeitura de Pedra Branca. Eles falaram que a região da aldeia Yvytotõ é de difícil acesso e que não tinham condições de permanecer lá e dar continuidade às buscas pelas dificuldades de deslocamento e alimentação. Na reunião, o delegado falou que vai estudar a região ao redor da aldeia através de imagens de satélite, para verificar se tem sinais de garimpos dentro da Terra Indígena Wajãpi. Se as imagens mostrarem sinais, vão fazer sobrevoos para verificar. Depois da reunião, as equipes de polícia retornaram para Macapá.

Nós Wajãpi continuamos muito preocupados com os invasores que estão na região norte da nossa Terra Indígena. Nas aldeias desta região as famílias estão com muito medo de sair para as roças ou para caçar. Algumas comunidades saíram de suas aldeias para se juntar com famílias de outras aldeias para se sentirem mais seguras. Por isso nossos guerreiros de todas as regiões da TIW estão se organizando para ajudar os guerreiros da região do Mariry, que continuam procurando os invasores, e pedimos apoio da Funai para isso. Se tivermos informações novas, iremos fazer outras notas.

Posto Aramirã – Terra Indígena Wajãpi, 29 de julho de 2019.