Marxismo é tema reunião entre o PCdoB e Universidade da China

O PCdoB e a Fundação Maurício Grabois receberam, na sexta-feira (19), uma delegação de estudiosos marxistas da Universidade Renmin, na China, liderada pelo professor Wu Fulai. Os pesquisadores foram recebidos pelo vice-presidente do PCdoB, Walter Sorrentino, e o presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo que apresentaram o cenário político e econômico do Brasil, assim como a estratégia do Partido para o enfrentamento do governo Bolsonaro.

Por Cezar Xavier

China PCdoB - Foto: Cézar Xavier

A Universidade Renmin (Universidade do Povo, em mandarim) desenvolvia trabalhos avançados e se tornou o ambiente intelectual mais influente do país, conforme se consolida o pensamento de Karl Marx naquele país. O interesse dos chineses na reunião com o PCdoB se expressou em dois temas centrais: as linhas de pesquisa teórica e o trabalho da juventude. A delegação chinesa integra o Centro de Pesquisas Marxistas da Universidade Renmin e a brasileira era foi composta por dirigentes do PCdoB e da Fundação Maurício Grabois.

Resposta à Guerra Comercial

Segundo Sorrentino, foi uma conversa de “muita elevação e muito gratificante”. Desenvolveram pontos de vista em comum sobre a importância, neste momento, de desenvolver o marxismo, de fazer intercâmbios institucionais, estudando a realidade do capitalismo neoliberal e estudando as formas da nova luta pelo socialismo no Brasil e no mundo.

“Eles tem um cabedal enorme. O centro de pesquisa que eles dirigem tem uma grande elevação intelectual na China e pudemos estudar algumas linhas de pesquisa em comum e trocando informações sobre os trabalhos de educação do nosso povo, da juventude em particular e dos militantes partidários”, pontuou o dirigente comunista.

O vice-presidente do PCdoB explicou o contexto em que se dá a novidade desse diálogo. Ele observa que a China buscar ampliar o seu raio de interesses, de amigos, de intercâmbios. “A China está no alvo de uma guerra comercial movida pelos EUA, que é uma cabeça de ponte de uma guerra contínua e multidimensional, ao longo dos próximos anos. Uma disputa tecnológica em que os EUA estão ficando pra trás, que cria uma multipolaridade que contraria a estratégia norte-americana de unipolaridade. Nesse contexto, a China se dispõem a liderar a globalização enterrada por Trump, transformando isso num mecanismo de benefício comum e recíproco a quem participa. Isso também corresponde a uma ofensiva comunicacional pra esclarecer os objetivos da China”, analisa ele.

Para o PCdoB, segundo o dirigente nacional, o encontro mostra a importância que o Partido Comunista da China dá ao marxismo. Ele considera isso bastante impressionante, sobretudo da parte do atual secretário-geral do PCCh, Xi Jinping, que cita, muitas vezes, a obrigação e necessidade de desenvolver o marxismo e se apoiar nele. “Como esse também é o nosso primado, acho que há muito terreno de cooperação em comum para investigarmos juntos os fenômenos contemporâneos e nos armarmos mais no Brasil para descortinarmos os caminhos do socialismo no nosso país. Não estamos para copiar modelo de ninguém, somos uma nação que quer autodeterminação, soberania, não queremos ser dependentes de ninguém. Temos que pensar com nossas próprias cabeças”, completou.

A delegação brasileira ficou de formular uma minuta de protocolo, estabelecendo algumas cooperações que se pode fazer no âmbito da pesquisa marxista com o Centro de Pesquisas Marxistas da Universidade do Povo da China. Deve haver eventual apoio da Universidade a convênios formais em que se possa trocar delegações, intercâmbio, estudos. Sorrentino destacou que o Partido apresenta como ponto nodal desse esforço, estudar juntos os BRICS: o que representa na estratégia de partidos comunistas dos países que o integram (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). “Esse foi um ponto que se destacou e talvez possamos já de imediato estabelecer uma cooperação e discutir em comum o que representa o BRICS para nossas estratégias políticas”, concluiu.

Reunião produtiva

O professor Wu Fulai explicou que o principal motivo de estar no Brasil é para visitar e conhecer melhor os partidos de esquerda, principalmente o PCdoB e o Partido dos Trabalhadores, e poder conhecer e promover melhor as ideias marxistas. “Somos a primeira faculdade constituída pelo governo chinês após a sua nova direção do Partido Comunista chinês, por isso, sentimos que seja nossa missão promover o marxismo nos outros países e aumentar a nossa relação do governo com os partidos de esquerda do mundo”, situou ele.

Segundo ele, a delegação tem se preocupado em aumentar as conversas com institutos que possuem estudos avançados da ideologia marxista. Um dos exemplos foi a Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro. “Queremos aproveitar essa visita e essa oportunidade para poder aumentar as discussões sobre o tema e, ao mesmo tempo, buscar parcerias”, disse o estudioso.

Ele destacou e agradeceu a recepção calorosa de todas as instituições que recepcionaram a delegação chinesa. “Como o próprio Sorrentino nos disse, esta foi uma reunião, apesar de curta, muito produtiva. Vemos muitas possibilidades a partir dessa reunião. Por isso, vemos como uma reunião muito produtiva e significativa para nós”, avaliou.

Há parcerias possíveis? “Vemos com bons olhos as oportunidades”. Ele contou que tem, atualmente, um exemplo claro de parceria feito com o Partido Comunista da África do Sul. “Lá, tivemos uma ótima experiência de como desenvolver parcerias e essa nossa reunião aqui mostra que estamos caminhando no mesmo sentido. Eu, pessoalmente, acredito que tenhamos uma grande possibilidade de estabelecer uma parceria”, enfatizou Wu Fulai.