Apesar do título simples, esse Chronique d’ un Été, criado no final dos anos 50 por Jean Rouch e Edgar Morin, e lançado e premiado no Festival de Cannes de 1961, é uma das mais importantes obras do ponto de vista histórico para o cinema, tendo começado o cinéma verité (cinema verdade).
Por Celso Marconi*
Publicado 22/07/2019 16:54 | Editado 13/12/2019 03:29
Certamente, ainda existem moradores em João Pessoa (PB) que lembram da passagem demorada de Jean Rouch pela cidade e muitos dos seus ensinamentos, que ficaram plantados para o pessoal dos anos 70. Mas todos os outros estudantes de cinema, não só da Paraíba, poderão retomar os debates da época se colocarem a obra Crônica de um Verão no acervo ativo das suas escolas.
Por sinal, o crítico e professor André Dib, que mora e atua na Paraíba, me avisa que o filme está programado para passar no próximo dia 1º de agosto em João Pessoa, às 18 horas, no IFPB Jaguaribe.
Foram dois cientistas sociais que criaram o nome cinéma verité a partir desse filme feito em Paris. Ambos eram ligados aos estudos sociais. Jean Rouch era antropólogo, e Edgar Morin, sociólogo e antropólogo. Nos anos 50, Edgar Morin já era conhecido no Brasil – e no Recife lemos alguns dos seus trabalhos.
Mesmo que o principal seja criar um conteúdo, isso não impede que o filme tenha em todos os momentos um muito bom ritmo narrativo. E tenha momentos de grande beleza plástica, como nas imagens em que uma das moças caminha pela praça Concorde e também quando segue por um imenso túnel e a cena termina com uma dança coletiva ao som de uma banda de harmônica.
Edgar Morin certamente influencia mais na composição conteudística, estabelecendo as pesquisas nas ruas de Paris sobre o que é felicidade e depois conduzindo os estudos mais aprofundados em torno do que cada um faz para construir suas vidas. Mas são muito importantes todos os debates que se desenvolvem durante grande parte do filme sobre como se comportar ou não diante das câmeras. É bom lembrar que a produção contou com Jean-Jacques Tarbès, Michel Brault, Roger Maurice e Raoul Coutard – este se transformou num dos maiores fotógrafos do cinema europeu.
O filme é pensado com antecedência, mas durante a produção há sempre uma maior liberdade para criar. Artistas como Glauber Rocha e Jean-Luc Godard se interessaram muito pelos ensinamentos do cinéma verité.
* Celso Marconi, 89 anos, é crítico de cinema, referência para os estudantes do Recife na ditadura e para o cinema Super-8