Renato Janine Ribeiro: “As universidades podem falir” 

O ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro criticou o “Future-se”, lançado de improviso na última quarta-feira (17) pelo governo Bolsonaro. O plano, de viés neoliberal, quer abrir as universidades federais para uma ofensiva da iniciativa privada. “É um projeto preocupante, porque se concentra somente em certos setores da vida universitária, que são aqueles setores que podem ter repercussão empresarial”, afirmou Janine Ribeiro à revista Época. “É um cheque em branco.”

O ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro

Segundo ele, o governo se mantém “silencioso sobre setores que não têm impacto nesse âmbito, como as ciências humanas e as ciências básicas. Há uma ingenuidade nesse projeto de achar que uma ligação maior com as empresas vai ser perfeita”. Para Janine,
não haverá pesquisa aplicada sem “muita ciência básica e pura”.

Ele também denunciou o caráter especulativo do “Future-se” – “toda a ideia de que as universidades vão especular na Bolsa, que haverá uma série de coisa para as universidades, por causa de aplicações e Fundos Imobiliários”. De acordo com o ex-ministro, o orçamento de cada federal corre o risco de não fechar.

“As federais precisam ter segurança de que vão poder pagar os salários, a conta de luz, ter dinheiro para comprar reagentes, livros, realizar congressos, convidar professores”, defendeu Janine Ribeiro. “Se isso tudo vai depender de especulação na Bolsa, você não tem menor ideia de quais recursos as universidades vão ter efetivamente. As federais podem falir – e aí destrói-se um patrimônio construído por décadas, gerações”, agregou.

Outra preocupação de Janine Ribeiro é com o futuro da produção de pesquisas de interesse público. “Tem todo um dinheiro que foi investido pela sociedade brasileira na universidade pública, um século de investimento pelo menos e esse dinheiro já criou o sistema que está pronto. Está se comprando muito barato um patrimônio que custou muito caro. É preciso ver onde há pontos de interesse convergentes”, declarou.

O ponto mais grave, segundo o ex-ministro, é a tendência de redução do orçamento das universidades. “Há a intenção de gastar menos dinheiro com educação, está visível, é possível ver isso nas declarações desse governo o tempo todo. É complicado”, lamenta. “Nos países que se desenvolvem, como Coreia, Cingapura, Xangai, nesses lugares todos têm uma preocupação em aumentar investimento, e não em reduzir. Existe uma desresponsabilização do Estado pela pesquisa e pela educação. O resultado disso só pode ser ruim. Não tem como ser bom.”

Com informações da Época