Morre aos 80 anos o ex-ministro do Trabalho Walter Barelli  

O mundo do trabalho se despede, nesta quinta-feira (18), de um de seus mais importantes estudiosos. Morreu em São Paulo, aos 80 anos, o economista e professor universitário Walter Barelli, ex-diretor técnico do Dieese (1966-1990) e ex-ministro do Trabalho (1992-1994, sob o governo Itamar Franco). Ele estava internado desde o início de abril no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, depois de sofrer uma queda e bater a cabeça.

Barelli

Nascido em São Paulo, em 25 de julho de 1938, Barelli era professor aposentado pela Unicamp, onde se doutorou em Economia, deu aulas no Departamento de Teoria Econômica e foi membro Cesit (Centro de Economia Sindical e do Trabalho). Além do vínculo com a tradicional universidade paulista, sediada em Campinas (SP), foi um dos principais nomes do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

Barelli começou a militância na Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP), na Juventude Universitária Católica (JUC), e seguiu no Sindicato dos Bancários de São Paulo. Durante a ditadura militar, em 1965, assumiu o cargo de diretor-técnico do Dieese, ali permanecendo por 25 anos. Dirigiu a entidade em um momento de fortalecimento do movimento sindical e deu rumo para as campanhas salariais, além de denunciar a manipulação feita pelo governo para reduzir índices de inflação, durante a ditadura.

Sob seu comando, o Dieese ganhou visibilidade e credibilidade. Foi, durante muitos anos, a instituição com mais prestígio em relação às estatísticas do mercado de trabalho. Sua atuação no órgão fez com que fosse preso pelos militares em 1979, mas diante da forte mobilização de políticos e sindicalistas, foi solto rapidamente. No período da redemocratização, Barelli participou também da elaboração de projetos para a Assembleia Nacional Constituinte.

O trabalho no Dieese fez com que Barelli se aproximasse do movimento sindical e do PT. Na campanha presidencial de 1989, assessorou Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo sem se filiar ao partido, tornou-se muito amigo de Lula. Com a vitória de Collor, deixou o Dieese e participou do governo paralelo, articulado pelo PT para fiscalizar a gestão e apresentar propostas alternativas.

Depois do impeachment de Collor, aceitou o convite de Itamar Franco para ser ministro do Trabalho. Dirigentes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) ensaiaram uma resistência a seu nome, que consideravam muito alinhado às propostas petistas e da CUT, mas Itamar manteve a nomeação.

No comando do ministério, articulou mudanças na política salarial e definiu reajustes para recuperar as perdas decorrentes da inflação. Ao integrar a gestão Itamar, Barelli marcou posição em relação ao PT, que não queria lideranças como a ex-prefeita Luiza Erundina — então filiada ao partido — no governo. Para o economista, era necessário participar do esforço de conciliação promovido pelo então novo presidente.

No ministério, Barelli cobrou a participação dos sindicatos na luta contra os aumentos abusivos e contra a inflação. O então ministro fez com que, pela primeira vez, o governo federal reconhecesse e combatesse a prática de trabalho infantil e escravo no país, e pediu à Polícia Federal que investigasse os casos denunciados pela Comissão Pastoral da Terra na região Norte.

Barelli entrou em conflito por diversas vezes com o então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso e ameaçou deixar o governo por criticar a falta de participação do Ministério do Trabalho na formulação do Plano Real. Um dos principais pontos da discórdia era a conversão dos salários em unidade real de valor (URV) e a regra dos salários da nova moeda. Outra divergência foi em relação ao valor do salário mínimo: o então ministro propunha ao menos US$ 100 e FHC, US$ 70.

No governo, defendeu a aprovação das reformas trabalhista e sindical junto à implantação do Plano Real. Barelli lamentou quando Itamar enviou ao Congresso a reforma trabalhista “aos pedaços”. Propôs o fim do FGTS e afirmou que o fundo não cumpria mais sua função de investimento no setor habitacional. Errou ao defender a extinção da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), mas acertou ao lutar por contratos coletivos para ampliar a geração de emprego. Foi a favor da redução da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas para criar oportunidades de trabalho.

Em 1994, filiou-se ao PSDB, deixou o governo e tentou ser vice na chapa de Mario Covas ao governo paulista. A vaga, no entanto, foi para Geraldo Alckmin. As divergências com Fernando Henrique Cardoso foram superadas e Barelli participou da formulação do plano de governo da candidatura presidencial do tucano, eleito naquele ano. No ano seguinte, assumiu a Secretaria de Emprego e das Relações de Trabalho no governo Mario Covas, em São Paulo. Ficou no cargo entre 1995 e 2002.

Tentou disputar uma cadeira na Câmara Federal por duas vezes, em 1998 e em 2002 (quando ficou na suplência). Em 2005 assumiu a vaga. Dentro do PSDB, participou da Executiva nacional. Encerrado o mandato, em 2007, afastou-se da política e dedicou-se à carreira acadêmica. Durante sua trajetória, Barelli lecionou em faculdades como PUC, FGV e Unicamp. Escreveu livros como O Futuro do Emprego, Distribuição Funcional de Renda nos Bancos Comerciais e As Alternativas de Emprego para o Mercado de Trabalho.

Com informações do Valor Econômico