Ernesto Araújo e sua aliança homofóbica e machista

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, explicou, em entrevista, as bases do que tenta emplacar como Aliança Liberal Conservadora, uma versão à direita do Foro de S. Paulo que reúne elementos-chave da lógica bolsonarista, pautada pela ruptura com pautas globais como as mudanças climáticas e princípios históricos da agenda de direitos humanos, como a consolidação de direitos LGBT, o combate a exploração sexual por meio da educação na infância e o repúdio à violência policial.

Ernesto Araújo

"Acho que às vezes os conceitos atrapalham a realidade", diz Araújo durante quase uma hora de conversa, conforme matéria da BBC News Brasil. A frase serve como fio da meada para tentar entender a cabeça do chanceler. "Nós precisamos fazer coisas que sejam importantes para o povo brasileiro e não apenas coisas que sejam importantes para outros diplomatas", disse o ministro.

Sua Aliança Liberal Conservadora ressoaria essas ideias junto a países como EUA, Hungria, Itália, Argentina e Colômbia. "Há uma sensação de que a gente pode derrotar percepções ideológicas que dizem que você não pode ter nação, não pode ter povo, tem que ter padrões globais que valham para todos independentemente das suas identidades e só assim você pode atingir a prosperidade."

A matéria lembra que a diplomacia brasileira é conhecida no exterior pela vanguarda em temas ligados a minorias. O país foi, em 2003, o primeiro do mundo a propor uma resolução na Organização das Nações Unidas (ONU) sobre "Direitos Humanos e Orientação Sexual", abrindo caminho para discussões sobre o tema na instituição. Em 2008, patrocinou um documento na Organização dos Estados Americanos (OEA) para a prevenção da violência contra pessoas LGBT. No mesmo ano, o país foi o primeiro a realizar Conferência Nacional de Promoção dos Direitos das Pessoas LGBT, um modelo repetido no exterior desde então.

Para Araújo, no entanto, o Brasil pré-Bolsonaro "procurava se pautar por aquilo que não desagrada ninguém, que procurava sempre ver 'se eu posso dizer isso, se eu posso dizer aquilo', que cada vez se limitava mais dentro do politicamente correto". Araújo ilustra a mudança de maré quando explica, por exemplo, por que o Brasil retirou menções ao termo LGBT em sua recém-apresentada candidatura ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.

`Pensamento de esquerda

A reportagem pergunta se LGBTs não são pessoas reais ou algo concreto — no Brasil, segundo dados de 2017 do Ministério de Direitos Humanos, o Brasil registra 552 pessoas mortas por ano vítimas de homofobia —ou uma a cada 16 horas. "[O termo] é usado como se fosse simplesmente um mecanismo para controle do discurso, daquilo que se pode falar, dizer, e não como algo que seja usado realmente para a igualdade às pessoas com opções sexuais diferentes nesse sentido aí", responde Araújo.

O ministro defende uma ruptura definitiva com o pensamento de esquerda a partir do que chama de "resgate de valores cristãos e ocidentais". Recentemente, no entanto, o Brasil se afastou das principais democracias europeias e das Américas ao se unir a países como Arábia Saudita, Paquistão, Bangladesh, Afeganistão e Egito em discussões na ONU sobre mulheres. Emissários de Araújo apoiaram esses países em discussões sobre referências à educação sexual como forma de combate a violência contra mulheres e casamentos forçados, diz o texto.

Dados do governo federal apontam que, em 2018, foram registradas 17.093 denúncias de violência sexual contra menores. Mais de 70% dos casos foram praticados por pais, mães, padrastos ou outros parentes — e dentro de casa. A reportagem lembra que a argumentação dos países que se opunham ao Brasil e aos árabes defendiam não se referir à sexualização de crianças, mas à formação de jovens para que possam identificar, se defender e aprender a denunciar abusos.