Intelectuais unidos contra violência

 Foi dado nesta segunda-feira, 1, no Salão Nobre do IFCS, o primeiro passo para criação da Rede Fluminense de Pesquisa sobre Segurança Pública e Direitos Humanos. Na presença de jornalistas, pesquisadores, alunos e intelectuais, a Rede apresentou suas diretrizes de trabalho e o campo de atuação profissional de seus membros.

Segurança Pública

 
A saber, formam o coletivo nomes como: Michel Misse, Kant de Lima, Luiz Eduardo Soares, Julita Lemgruber, Jaqueline Muniz, João Trajano e Marcelo Burgos. Também foram convidado(a)s Cecília Minayo, Alba Zaluar e Luiz Antonio Machado, além de pesquisadores de todas as Universidades. Também estão sendo convidados pesquisadores de instituições não universitárias como IPEA, ISER, Obsvc ervatório de Favelas, Redes da Maré, Fogo Cruzado, Igarapé, Anistia, Fórum Grita Baixada, Casa Fluminense, ITS, Cejil, Luta Pela Paz, Justiça Global, IPP – e centros de pesquisas de entidades jurídicas, como MPRJ, Defensoria Pública e OAB.

Neste primeiro encontro, foi abordada a importância da criação deste coletivo, em face à crescente violência que assola o Brasil e principalmente o Estado do Rio de Janeiro. Para o professor Michel Misses, por exemplo, há uma crise humanitária, e também uma uma grande banalização da violência, que precisam ser combatidas e amplamente discutidas dentro da sociedade. Já Cecília Minayo, em sua fala, reforçou a tese de que a Rede deve produzir, com alguma frequência, uma carta para ser entregue às autoridades pedindo o fim da banalização da morte.

O sociólogo Luis Eduardo Soares, por sua vez, relembrou que os membros do grupo já estão uma área consolidada de pesquisa, atuando em variadas frentes com o mesmo objetivo: compreender porque nos tornamos um estado tão violento. Para ele, chegou o momento de unir os esforços, as pesquisas e o conhecimento adquirido e levar essas discussões para rua. "As pessoas precisam entender o que está acontecendo no Brasil", afirmou. Neste sentido, sua fala foi complementada pelas de Jaqueline Muniz e Marcelo Burgos, professores da UFF e da PUC, respectivamente.

Eles falaram sobre o quanto o "estudo da violência e da segurança pública" avançou no país nas últimas décadas, apresentando dados e institutos que foram criados, reforçando que há um campo de pesquisa consolidado sobre o tema, que não pode ser dispensado do debate. Jacqueline apresentou alguns dos órgãos e instituições que foram criadas nos últimos anos, e apontou que ocupar esse campo de estudo, primeiramente esquecido, e depois proibido pela ditadura de 64, foi um grande passo para a sociologia brasileira.

Entre números de policiais mortos, extermínio da população negra e periférica, e diversos discursos sobre a importância da criação da Rede neste momento pelo qual atravessamos, chamou atenção na tarde de ontem a fala do sociólogo Itamar da Silva. Ele falou sobre a importância deste grupo de pesquisa unir o meio acadêmico com a atuação de coletivos e organizações periféricas. Isso porque é impossível falar de genocídio da população negra sem conversar com as pessoas que moram nas favelas. Ao fim, ele salientou a importância da criação da Rede, clamando por uma narrativa que possa fazer as pessoas mais pobres compreenderem quais são os seus direitos.

Ao fim do ato de lançamento da Rede Fluminense de Pesquisa sobre Segurança Pública e Direitos Humanos, seus membros combinaram novas iniciativas de diálogo com as policias do estado, e novas reuniões. Em tempos de solução imediata para problemas complexos, o diálogo e o debate parecem ser as únicas saídas para esta crise humanitária. Afinal, segundo o Atlas da Violência de 2019, tivemos em 2017 cerca de 66 mil pessoas vítimas de violência letal intencional no Brasil, das quais 75,5% eram negras. Somos um país em que a taxa de mortes é 43,1 por 100 mil habitantes entre cidadãos negros e 16 por 100 mil habitantes entre cidadãos brancos. Há um escândalo humanitário no Brasil. E ele precisa ser debatido.