Banco Central admite: a economia parou, e o PIB do Brasil só 0,8% 

Sob as incertezas do governo Bolsonaro e o receituário libera do ministro Paulo Guedes, a economia brasileira parou. O diagnóstico não é (apenas) da oposição – mas, sim, do Banco Central (BC), que divulgou nesta quinta-feira (27) o Relatório de Inflação de junho. Segundo o órgão, a projeção de crescimento do PIB para 2019 despencou de 2% para 0,8%. E o índice pode ser ainda menor, haja vista a falta de “sinais nítidos de recuperação” no segundo trimestre.

Assim se explica o BC: “A revisão está associada à redução do carregamento estatístico para o restante do ano, refletindo o desempenho da economia no primeiro trimestre de 2019 em magnitude inferior ao esperado; à moderação no ritmo de atividade, apontada por indicadores de maior frequência divulgados até a data de corte deste relatório; e ao recuo dos indicadores de confiança de empresas e consumidores com impactos sobre as perspectivas de consumo e investimento”.

Para fazer suas projeções, o Banco Central considerou dados de atividade divulgados até 14 de junho. No âmbito da oferta, a previsão para o crescimento da agropecuária (1,1%) permaneceu praticamente estável desde o Relatório de Inflação anterior (1%), contrastando com reduções nas previsões de crescimento para os demais setores.

A projeção para o desempenho da indústria foi revista de 1,8% para 0,2% de avanço, “refletindo recuos nas expectativas de crescimento para todos os segmentos do setor, exceto produção e distribuição de eletricidade, gás e água”. Um exemplo emblemático da crise está na indústria de transformação – a estimativa da variação do PIB do setor baixou de 1,8% para -0,3%. O motivo: o desempenho abaixo do esperado no primeiro trimestre de 2019 e a evolução de indicadores referentes à atividade fabril no início do segundo trimestre.

Para a indústria extrativa, mais queda: o percentual caiu mais da metade (de 3,2% a 1,5%), devido “às incertezas sobre os impactos do rompimento da barragem de mineração em Brumadinho”. Já o prognóstico para a construção civil saiu de crescimento de 0,6% para recuo de 1%, decorrente, “sobretudo, de resultado no primeiro trimestre expressivamente abaixo das expectativas e de ausência de evidências que sugiram recuperação efetiva do setor ao longo do ano”.

Para o setor de serviços, a estimativa foi reduzida de 2% para 1% entre um relatório e outro, com reduções nas estimativas para o desempenho da maioria das atividades. As projeções do BC para o crescimento anual do comércio e de transporte, armazenagem e correio, setores correlacionados com a atividade industrial, foram revistas de 2,3% para 0,9% e de 2,4% para 0,5%, nessa ordem.

“A trajetória aquém da esperada no primeiro trimestre do ano motivou também as revisões nas expansões previstas para os segmentos de serviços de intermediação financeira e serviços correlacionados (de 2,0% para 0,6%), atividades imobiliárias e aluguel (de 2,9% para 1,6%), administração, saúde e educação públicas (de 1,0% para 0,4%), e outros serviços (de 2,0% para 1,3%)”, detalha o BC.

Do ponto de vista da demanda, a estimativa para o crescimento do consumo das famílias foi revista de 2,2%, na projeção de março, para 1,4%, “compatível com a expectativa de recuperação mais gradual da massa salarial”. A projeção para o crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) recuou de 4,3% para 2,9%, influenciada pelo resultado negativo do primeiro trimestre e pela piora dos indicadores de confiança de empresários.

Já o consumo do governo deverá crescer 0,3%, ante projeção de aumento de 0,6% em março, segundo o BC, “consistente com expectativa de piora na arrecadação tributária em cenário de crescimento econômico menor do que o previsto no Relatório de Inflação anterior”. Para exportações e importações de bens e serviços, as estimativas de crescimento em 2019 ficaram em 1,5% e 3,8%, respectivamente, ante 3,9% e 5,6% divulgadas em março.

“O recuo na projeção para as exportações reflete reduções adicionais em prognósticos para o crescimento mundial, incertezas sobre a exportação de minério de ferro e aprofundamento da crise na Argentina, importante destino de bens industrializados. A diminuição na estimativa para as importações decorre de redução nas projeções de crescimento da indústria de transformação e da FBCF, com consequente decréscimo nas aquisições de insumos e de máquinas e equipamentos, bem como da redução na projeção para o consumo das famílias”, explica o BC.

Da Redação, com informações do Valor Econômico