Jandira Feghali debate com intelectuais rumos da democracia brasileira

Participaram do debate, organizado pela seção estadual da Fundação Maurício Grabois, nomes como Jandira Feghali, líder da minoria no Congresso; o grande antropólogo Luis Eduardo Soares; Elias Jabbour, Presidente da Fundação Maurício Grabois; e Jefferson Moura, sociólogo que mediou a discussão.

Jandira Feghali em debate com intelectuais

Em julho, o governo de Jair Bolsonaro chegará ao seu sétimo mês no Palácio do Planalto. Entre as midiáticas desavenças com o Congresso, e suas temerosas canetadas, há um Brasil que resiste. Para vencer a agenda deste governo, cuja grande bandeira é a entrega da soberania nacional, é preciso que o campo progressista tenha unidade e debata os rumos do país. Assim aconteceu na última quarta-feira, 19, e a Livraria Leonardo da Vinci, no Centro do Rio de Janeiro, foi o palco de mais uma “Roda de Conversa sobre os rumos da democracia no Brasil”.

Confira a transmissão completa do debate neste link.

A grande pergunta da noite feita aos palestrantes era como pensar a democracia Brasileira neste momento, entre os ataques à Constituição, o desmonte do Estado e da soberania nacional, a interminável crise política e o crescimento da extrema-direita.

Entre tantos problemas e demandas de um Brasil que carece de cuidados, o saldo da conversa foi positivo. Com efeito, os palestrantes trouxeram à livraria questões pertinentes a respeito do que pode e deve ser feito para vencermos a agenda ultraliberal de Paulo Guedes, e principalmente com relação ao futuro da esquerda no Brasil e suas dificuldades em dialogar com as bases.

O primeiro a falar sobre este tema foi Luis Eduardo Soares. Para ele, “há uma revolução cultural em curso no Brasil”, encabeçada pela ala religiosa e o movimento evangélico. “Pela primeira vez na nossa história o universo católico deixa de ser a referência hegemônica exclusiva. Jair Bolsonaro teve 11 milhões de votos a mais do que Haddad entre os evangélicos”, afirmou.

O antropólogo Luis Eduardo Soares participou do debate na Livraria Leonardo Da Vinci

Desindustrialização

Neste sentido, o antropólogo relembra que o PT, em 2018, venceu a eleição nas classes mais pobres, mas “quem fez a diferença foi o universo evangélico”. Para Elias Jabbour, o grande problema para dialogar com o voto desse segmento social foi a desindustrialização em curso no Brasil. Se os trabalhadores e trabalhadoras não sentam mais nos chãos de fábrica para conversar sobre política, “como falaremos com estas pessoas?”, ele questionou.

Para esta questão, o antropólogo apresentou uma solução. Luis Eduardo Soares afirma que “essa desindustrialização dificulta a luta de classes em tradução de luta política. No entanto, é possível que a esquerda se reinvente. Não podemos deixar as massas à mercê do fascismo. É preciso que falemos de valores, questões de valores significam avançar nas pautas a respeito das mulheres, do público LGBT, do racismo e principalmente no direito das minorias. É um desafio tremendo”. Para Elias, “precisaremos estar preparados para 2022, pois o debate será entre a nacionalidade contra a não-nacionalidade”.

Para Jandira Feghali, do PCdoB, a tecnologia assumiu um importante fator neste processo de conversa com as classes menos abastadas. Neste sentido, ela apontou para a guerra de narrativas nas redes sociais, e para o fenômeno das fake news, que permeou a eleição de 2018. Ela também falou sobre os desafios que estão por vir no Congresso, como a CPI da operação Lava Jato e a reforma da previdência.

Realidade à parte

De acordo com a deputada, “a despeito das passeatas, onde todos caminham com um mesmo rumo, a vida nas favelas continua uma realidade à parte”. A parlamentar aponta para a “necessidade em promover um discurso unido para o desenvolvimento do país, centrado na reconstituição do ciclo democrático, onde o campo progressista, em sua essência, se encontrará nas bases“.

Ao fim do evento, o mediador Jefferson Moura abriu o microfone para algumas perguntas da plateia. Elias Jabbour defendeu que para a esquerda sair da crise em que se encontra, é preciso dois fatores: criar uma solução para o desemprego e unir os partidos progressistas. Para Soares, a grande questão que está “sobre a mesa” é a criação de pautas que possam unir os partidos de esquerda. O respeito às minorias “deve fazer parte das ações desses partidos, pois são bandeiras que podem nos unir entre si”.

A última fala da noite foi de Jandira Feghali. Ela salientou os comentários anteriores, e afirmou que não é possível reverter o “núcleo duro do presidente Bolsonaro, pois este núcleo sempre existiu, e outrora apoiou os integralistas, a UDN”. No entanto, é “preciso trabalhar em cima de pautas concretas, apontar os problemas da reforma previdenciária, dos escândalos na Lava Jato… Não é possível reverter os 57 milhões de votos de Jair Bolsonaro, mas é possível buscar algumas pessoas. A ficha delas está caindo. Não podemos fazer sectarismo nisso”, concluiu.

Por João Francisco Werneck, para o Vermelho