Caixa-preta no BNDES é ficção, diz Rabello

Ex-presidente do banco avalia que Montezano, o novo presidente, ficará entre a "cruz e a caldeirinha".

Paulo Rabello de Castro

O engenheiro Gustavo Montezano, apontado pelo governo para ser o novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), terá que enfrentar uma "escolha de Sofia" – uma decisão difícil, tomada sob pressão -, no entendimento do ex-presidente da instituição de fomento, Paulo Rabello de Castro. A informação é do jornal Valor Econômico.

"A escolha se dará entre ser um gestor público, honrando o nome do pai dele [Roberto Montezano] ou ser mais um pau mandado", disse Rabello, que presidiu o BNDES no governo de Michel Temer. Montezano foi indicado pelo governo para presidir o BNDES com duas prioridades bem definidas. Uma delas é a devolução de recursos ao Tesouro Nacional.

Segundo o Valor, a outra prioridade passa pelo que o governo Bolsonaro insiste em denominar, desde a campanha eleitoral, de abertura da "caixa-preta" do BNDES, em especial em relação aos contratos de apoio à exportação de serviços para Cuba e Venezuela. Rabello disse que, neste aspecto da "caixa-preta", Montezano ficará entre a "cruz e a caldeirinha" – em grande dificuldade -, uma vez que terá que escolher entre a verdade e a "fake news", fatos manipulados para atender a um interesse específico.

"[Montezano] precisará ser sensato como o pai, que foi meu aluno [na EPGE/FGV], ter a mesma compostura, senão daqui a pouco está queimado", disse Rabello, informa o jornal. Na visão do economista, não existe caixa-preta a ser aberta no BNDES, apesar do discurso do governo que reverbera nas mídias sociais na internet, disse Rabello.

Livro verde

Para ele, a caixa-preta tornou-se uma repetição insistente do governo Bolsonaro. Rabello diz que na sua gestão no banco, de onde saiu em março de 2018 em um projeto de pré-candidatura à Presidência da República, procurou fazer uma análise detalhada para entender como o BNDES funciona e opera. Diz que queria saber se o banco era falho em alguns aspectos ou se faltavam controles.

O resultado dessa análise foi a publicação do Livro Verde, relatório sobre as atividades do banco. O livro foi publicado em 2017, quando o BNDES completou 65 anos, e se constitui em uma defesa do trabalho "íntegro" da instituição, nas palavras do próprio Rabello, na introdução do trabalho.