Marianna Dias, nas páginas amarelas da Veja, vê educação como solução

Em entrevista às páginas amarelas da revista Veja deste final de semana, a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Marianna Dias, diz que a pauta educação mobiliza as pessoas porque ela pode ser uma solução para os outros problemas, permitindo construir uma sociedade melhor.

Marianna Dias FSM - Foto: Vangli Figueiredo / UJS

Questionada por que não houve mobilização contra os cortes de recursos para a educação em outros governos, ela diz que o problema desta vez foi o desrespeito.

“O primeiro argumento que eles trouxeram foi o da balbúrdia. Eles anunciaram os cortes em três universidade e disseram: ´Olha, nós vamos cortar porque há balbúrdia´. Isso ofendeu muito e, depois que ele (ministro da Educação Abraham Weintraub) disse que ia ser em todas as instituições, piorou mais ainda. O governo ofendeu cientistas, estudantes, pessoas que desenvolvem tecnologia no país, reitores, todo mundo que já passou pela universidade”, explicou Marianna.

Sobre a tentativa de diálogo, a presidente da UNE afirmou que governo não tem esse desejo de dialogar com a sociedade civil.

“Os próprios deputados federais falam que não são recebidos. Já fui a uma audiência pública no Congresso para poder falar com o ministro. Fomos extremamente hostilizados pelos deputados que são apoiadores do governo Bolsonaro e o ministro se recusou a nos ouvir. Ele falou que não queria ouvir a UNE e que não era filiado à entidade. Depois, se levantou e foi embora. Antes, esse diálogo era possível. Mesmo fazendo protestos, conversei até com os ministros do governo de Michel Temer (MDB)”.

Sem esse diálogo, a revista questiona como a UNE atua pela renovação do Fundeb? “O Congresso Nacional é um espaço muito importante para isso, e a gente tem uma relação estabelecida com os deputados e com os senadores. O Fundeb vai ser aprovado. Conversamos com todos os deputados, de todos os partidos, que pensam de todas as formas, porque a educação é um polo aglutinador. Qualquer pessoa que tenha juízo acha que é importante defendê-la”, respondeu.

Previdência

Outro questionamento foi sobre o abrigo de outras pautas como a reforma da Previdência. A presidente da UNE lembrou que nas universidades não têm só os estudantes, mas também os profissionais: professores e trabalhadores. “Essas pessoas estão muito preocupadas com a sua aposentadoria”.

CPI da UNE

A revista quis saber sobre a proposta de CPI para investigar o uso de recursos pela UNE, Marianna diz que em condições normais, ninguém fala em CPI da UNE. “Só que basta estabelecermos qualquer processo de questionamento mais expressivo que alguém fala em investigar a UNE”, protestou.

“O problema da CPI é esse caráter de perseguição. Nossa prestação de contas é pública, basta entrar no site de transparência do governo federal e dos governos estaduais para ter acesso”, afirmou a líder estudantil. Ele lembrou que a UNE já respondeu a uma CPI quando o senador José Serra (PSDB-SP) era seu presidente.

Caras pintadas

Ao fazer um paralelo entre o atual movimento e ao dos “caras pintadas” que derrubou o ex-presidente Fernando Collor de Mello, a revista questionou se havia condições de derrubar Bolsonaro. Marianna explicou que é muito cedo para entrar nesse debate de impeachment. “É óbvio que se o povo não gosta do governo tem o poder e o direito de pedir que troquem, que haja uma nova eleição. Mas ainda é cedo. A nossa luta é para pressionar o governo.”

Carteira da UNE

Sobre a proposta do governo que quer criar a carteira de identificação de estudantes, que hoje é emitida pela UNE, a presidente da entidade disse que a entidade não é diferente das outras associações representativas que existem no Brasil, como a OAB, e por isso defende a posição da UNE como emissora do documento.

Direita no movimento estudantil

A presidente da UNE respondeu também a falta de crescimento da direita no movimento estudantil. Ela respondeu que no ambiente universitário há pessoas que apoiam o governo Bolsonaro, mas não existe organização estudantil contra a UNE. “Surgiram algumas iniciativas, mas tudo isso foi criado nas redes sociais, só que a vida não se resume às redes sociais. Eles são contraditórios com a realidade da universidade e falam coisas absurdas. Se você for disputar o Centro Acadêmico e disser que é a favor de mensalidade, a favor do fim do Fies, contra o Prouni, você acha que os estudantes vão votar? A universidade é um lugar para desconstruir essas coisas ruins que a gente tem da herança cultural, seja dos costumes, seja da construção social.”

Predominância do PCdoB

Houve o questionamento sobre a predominância do PCdoB na presidência da UNE desde 1985. Marianna respondeu que isso se deve ao PCdoB se organizar nas universidades com a União da Juventude Socialista, organização da qual ela faz parte.

“Nós acreditamos que disputar esse setor ajuda a avançar sobre os problemas que existem na nossa sociedade. Desde Renildo Calheiros, a gente conseguiu vencer o Congresso da UNE e eleger os presidentes, mas é importante ressaltar que a UNE não é uma entidade dirigida só pelo PCdoB. Qualquer estudante de qualquer pensamento político, educacional, filosófico, pode montar uma chapa e disputar a eleição da diretoria e essa diretoria é composta de forma proporcional. Existem vários diretores que são ligados a vários partidos, ao PSDB, a várias correntes. Por exemplo, o DCE da UnB hoje é dirigido por um grupo chamado Aliança, que é formado por jovens liberais. Eles não são ligados a nenhum partido, mas participam do movimento estudantil. Eu não sou da UNE para representar o PCdoB”, finalizou.