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Celso Marconi: A África e o cinema

Vi uma programação instigante com dois filmes longos africanos e um documentário em torno do ator africano Sotigui Kouyaté, todos através do site Making Off.

Por Celso Marconi*

Keita

Nascido no Mali, Sotigui trabalhou com Peter Brook, Jean-Claude Carière e outros ocidentais. Ele é reconhecido como um griot (que é uma figura especial no mundo africano). Sotigui Kouyaté não é só um ator, mas um contador de estórias e faz esse papel no filme Keita – A Herança do Griot. Uma produção de Burkina Faso, que me parece ser do país do ator.

O outro filme é A Gênese, que narra a formação dos povos africanos e foi produzido no Mali. O primeiro filme é de 1995, o outro, de 1999. Já a produção do documentário é francesa. Para quem pretende conhecer um cinema menos convencional, é uma programação realmente instigante, embora do ponto de vista da realização cinematográfica os filmes não tragam nenhuma novidade. Claro que um antropólogo não pode conhecer um povo sem partir para uma pesquisa no local, mas sem dúvida dois filmes africanos como esses são elemento fundamental para o conhecimento desse povo e dos seus costumes.

Inclusive a forma como as histórias são contadas mostram como o cinema africano é dependente da cultura ocidental. Keita – A Herança do Griot mostra uma expressão de cultura mais autêntica, mais ligada a uma maneira de narrar, que nos dá a impressão de uma certa autonomia na forma de pensar. Mas A Gênese coloca bem claramente essa dependência do cinema do Ocidente. Nesses filmes, o melhor como expressão africana é o guarda-roupa, pois deve ter sido aproveitado da própria realidade e não criado como para cinema. E os hábitos desse povo que não dispõe de tecnologia desenvolvida estão bem expostos.

Uma observação que cabe hoje é que, com uma criteriosa seleção na internet, podemos ter muitos filmes à disposição, não ficando submisso ao mercado hollywoodiano. Aí depende da vontade pessoal.

* Celso Marconi, 89 anos, é crítico de cinema, referência para os estudantes do Recife na ditadura e para o cinema Super-8