O Brasil à deriva, por Daniel Almeida

 Os tropeços da política levaram ao recuo da economia. A incapacidade de Jair Bolsonaro agir em favor do Brasil, nos primeiros cinco meses de gestão, custa caro aos brasileiros: ameaça de recessão e de colapso social num país que já contabiliza 13,2 milhões de desempregados.

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 0,2% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o período anterior, interrompendo a trajetória de recuperação, conforme o IBGE. É alarmante que a retração econômica tenha ocorrido exatamente nos setores mais dinâmicos da economia, como indústria e construção civil. Houve ainda desidratação dos investimentos. Apenas o segmento de serviços e o consumo do governo tiveram variações positivas. Outro dado preocupante é que as importações também variaram positivamente, revelando a dependência da economia nacional dos produtos de elevado valor agregado. Nesse cenário, especialistas apontam que as chances de o Brasil entrar em recessão técnica chegam a 70%.

Hoje o maior sonho dos brasileiros é que o país volte a crescer gerando empregos, tendo a preservação de direitos sociais. A realidade se mostra totalmente diferente. Vivemos a estagnação, e nada se faz. Estamos em compasso de espera, mas o presidente da República não dá as respostas necessárias a essa grave crise social, política e econômica.

Bolsonaro não tem noção de prioridade. Nesta terça-feira (4), por exemplo, foi à Câmara apresentar projeto de lei que permite elevar os pontos na carteira de motoristas em vez de discutir soluções para resolver os graves problemas nacionais.

Absurdamente, o governo federal gasta energia num esforço diário para criar factoides e assim alimentar seus seguidores de redes sociais ávidos por confrontos polêmicos. Não adianta tomar cafezinho com os presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado e do Supremo Tribunal Federal (STF) pela manhã e, à noite, dizer que a sua caneta tem mais força, chamando para a briga.

O clima é de desconfiança geral. O chefe do Executivo deveria buscar a harmonia entre os poderes em prol de uma agenda propositiva, cumprindo a Constituição. Não deveria demonizar relações institucionais, como se fossem sinônimo de corrupção. Esse comportamento prejudicial à economia e à democracia é cada vez mais rejeitado na sociedade e entre investidores.

De acordo com a XP Investimentos, em menos de cinco meses, a percepção ótima ou boa do mercado financeiro sobre o governo Bolsonaro despencou 72 pontos percentuais. Dos 86% verificados em janeiro, a percepção entre os entrevistados caiu para os atuais 14%. A sondagem ouviu 79 investidores institucionais, entre gestores de recursos, consultores de grupos nacionais e internacionais e economistas.

O ambiente é de incerteza. Não sabemos aonde isso vai parar. Defendemos a soberania do voto popular. Não podemos, entretanto, ignorar os fartos indícios das ligações de Bolsonaro e de seus familiares com milícias e crime organizado. É preciso apurar. É estranho o presidente não cobrar seu ministro da Justiça, Sérgio Moro, que não está sendo rigoroso nesse caso, como foi em outros processos.

Nós da Oposição, PCdoB, PT, PSol, PDT, PCB e PDT, temos feito reuniões sistemáticas para elaborar uma agenda positiva para o país. Não adianta apenas ficarmos constatando erros e dificuldades. Os partidos democráticos estão se unificando em defesa da reforma tributária justa, com taxação de grandes fortunas, fortalecimento do papel das estatais e criação de canais de investimentos públicos e privados para assegurar a geração de empregos no Brasil. Temos de seguir nas ruas lutando contra cortes na ciência e na educação. Vamos continuar protestando para garantir a retomada de um desenvolvimento socialmente justo. É inaceitável que o Brasil siga sem rumo à deriva.