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Canto a Mim Mesmo: Uma tradução inédita de Walt Whitman 

Em homenagem ao poeta Walt Whitman (1819-1892), cujo nascimento completou 200 anos nesta sexta-feira (30/5), o Prosa, Poesia e Arte publica uma tradução inédita de Canto a Mim Mesmo. Assinada por Rodrigo Garcia Lopes, a versão em português do poema fará parte da segunda edição – bilíngue, revista e ampliada – de Folhas de Relva, a ser publicada pela Editora Iluminuras neste mês de junho. Confira.

Walt Whitman
Canto a Mim Mesmo
(Walt Whitman)

(fragmento)

[…]

Por mim passam muitas vozes mudas há tanto tempo,
Vozes das intermináveis gerações de escravos,
Vozes das prostitutas e pessoas deformadas,
Vozes dos doentes e desesperados e dos ladrões e anões,
Vozes dos ciclos de preparação e acreção,
E dos fios que conectam as estrelas — e do útero e do sêmen paterno,
E dos direitos dos que são oprimidos pelos outros,
Dos deformados e insignificantes e tontos e imbecis e desprezados,
Do fog no ar e besouros rolando bolas de bosta.

Por mim passam vozes proibidas,
Vozes dos sexos e luxúrias . . . . vozes veladas, e eu removo o véu,
Vozes indecentes esclarecidas e transformadas por mim.

Não pressiono o dedo sobre a boca,
Cuido bem dos meus intestinos tanto quanto a cabeça ou o coração,
Pra mim a cópula não é mais digna do que a morte.

Acredito na carne e nos apetites,
Ver e ouvir e sentir são milagres, como é milagre cada parte e migalha de mim.
Sou divino por dentro e por fora, torno sagrado tudo que toco ou que me toca ;
O odor dessas axilas é um perfume mais caro que uma oração,
Essa cabeça mais cara que igrejas ou bíblias ou todas as crenças.