Em defesa do Brasil ??? Uma avaliação sobre domingo

Os atos a favor do governo realizados no domingo (26) têm uma contradição insolúvel, não falam o que a maioria dos brasileiros querem ouvir: emprego e desenvolvimento econômico! Acesso à educação e à saúde pública e de qualidade! Por suposto a diminuição da violência.

Brasil Império

Por Jefferson Moura*

Bolsonaro e seus filhos são antidemocráticos e defendem a ditadura. Justiça seja feita, nunca esconderam isto. Porém, só agora, no pós-eleições, foi possível conhecer um pouco mais do presidente e de sua família. A cada dia, mais e mais brasileiros se decepcionam com o que veem.

Aquilo que ficou fora dos debates nas eleições, o que foi subsumido à vitimização pós-facada, hoje governa o Brasil e não consegue mais se esconder atrás de Paulo Guedes, seu "posto Ipiranga". Bolsonaro é obrigado a mostrar a que veio: "Burrice e maldade jamais foram termos antagônicos”, como já dizia o “guru” do presidente, Olavo de Carvalho.

Creio, sinceramente, que ainda há mais pessoas convencidas a defender o governo, do que pessoas dispostas a ir às ruas defender o fim da aposentadoria e o corte na educação. Os poucos milhares que saíram às ruas hoje, contrastam com as centenas de milhares que reivindicavam Bolsonaro no segundo turno das eleições. É interessante ver os meios de comunicação tentando transformar o chamado de apoio ao governo, um fracasso total, em atos de apoio à reforma da previdência e a Moro.

Fora os que se aproveitaram dos sentimentos populares contra a corrupção e os loucos que creem que Deus defende o ódio e que a Terra é plana, a maioria dos que votaram em Bolsonaro só queriam ver seus problemas resolvidos. Na verdade, as pesquisas à época indicavam que votariam em Lula – por isso inclusive o prenderam – e muitos tinham e têm um sentimento de brasilidade, querem sinceramente um país soberano e desenvolvido.

As contradições que estavam claras para muitos de nós, começam a ficar nítidas para muitos que votaram em um sujeito que critica a velha política e vive dela há décadas, inserindo inclusive os três filhos. As denúncias cada vez mais consistentes contra Flávio Bolsonaro e o silêncio absoluto do hoje Ministro da Justiça Sérgio Moro sobre o caso Queiróz ou sobre as milícias são gritantes! Por outro lado, crise e mais crise! O preço da gasolina, dos produtos nos supermercados e o desemprego não param de subir. Sem trabalho não há possibilidade de diminuir a violência e os brasileiros começam a perceber isso. Bem, isto não significa que o PT ou a esquerda tradicional isoladamente deem conta de responder aos desafios colocados. Sem uma profunda autocrítica, e um programa efetivo de governança e desenvolvimento virtuoso, não haverá solução real.

Aqui entre nós, salvo honrosas exceções, de fato não é fácil defender, incondicionalmente, o Congresso e o STF. Reconhecer erros e enfrentar os problemas é necessário. Porém, não será acabando com a aposentadoria, liberando o uso de armas de fogo amplamente, matando a educação pública brasileira e acabando com a democracia que se construirá uma alternativa. Temos é que democratizar efetivamente a democracia a favor dos interesses da maioria do nosso povo.

Bolsonaro tentou repetir a história desconsiderando que foi alçado a um lugar no segundo turno, com a utilização de meios questionáveis, como um instrumento dos interesses do grande capital financeiro e não como um grande líder carismático de massas. Neste contexto, a tentativa de assumir o protagonismo e colocar-se como líder da luta anticorrupção, contra a velha política sem a sinceridade e a coerência necessários começa a fazer águas.

Pela cobertura dos meios de comunicação, está claro que Bolsonaro já não serve, olham para Moro e Mourão desejosos de recompor um núcleo capaz de subordinar o Brasil aos interesses norte-americanos, a favor do capital financeiro e pelo fim da democracia e dos direitos.

Lembrando o velho Marx, tão fora de moda para alguns: "A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa."

*Jefferson Moura é sociólogo, ex- vereador do Rio de Janeiro e militante do PCdoB.