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León de Greiff: Ritmos 

Um dos mais renomados poetas colombianos, León de Greiff (1895-1976) se distingue de todos os seus compatriotas e contemporâneos. Ele não foi imitador dos mestres da modernidade, não teve epígonos e não deixou discípulos devido à particularíssima maneira de escrever.

Estrelas

Seu lirismo é novo, puro e transparente, como é possível observar em Ritmos, que o Prosa, Poesia e Arte publica a seguir, em tradução inédita. Nesse poema, composto em 1921, a atmosfera da noite e seus ritmos estão irmanados com os ritmos da subjetividade do poeta e das próprias palavras que vão compondo o texto.

A tradução é do poeta Alexandre Pilati, professor de Literatura da Universidade Brasília (UNB) e colaborador do Prosa, Poesia e Arte.

Ritmos
(León de Greiff)
 
A Ramón Vinyes
Gira um ritmo sonâmbulo no profundo sossego
da noite adormecida,
sob a febre vibrante das estrelas,
sobre minh’alma entristecida.

Solitário – pela noite – vou sem rumo, sem rumo…
Peregrino dolente,
não em busca de glória, nem de amor, nem sorte…
Peregrino cansado, indiferente.

Meu espírito é um ritmo – apenas – dócil, sonâmbulo
entre a noite muda,
entre a noite sem peso, assombrada, trêmula,
entre a noite cândida e desnuda.

Meu espírito é um vago ritmo sem alegria,
sem amor, sem pranto…
Palpita com a noite, vibra com as estrelas,
e à voz do silêncio une seu canto.

Dos astros imensos e minúsculos, vaga
luz serena que descende…
Eu sou um peregrino da noite, sonâmbulo:
e a noite ao seu jugo me prende.