Doria atropela eleição para impor “deus-mercado” na TV Cultura

Processo viciado elege preposto do governador, adepto da agenda comercial para a emissora.

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Em nome do “deus-mercado”, o governador do estado de São Paulo, João Doria Júnior, atropelou o processo de eleição da direção da TV Cultura. Conforme denúncia do conselheiro da Fundação Padre Anchieta — a mantenedora da TV Cultura —, Durval de Noronha Goyos Júnior, presidente da União Brasileira de Escritores (UBE), Doria viciou o processo de eleição e na prática impôs o novo presidente da instituição. Na reunião extraordinária que elegeu a nova direção, realizada na segunda-feira (20), ele apresentou um documento com duras críticas ao processo.

Segundo Noronha, “as tratativas para a identificação de possíveis candidatos à posição de diretor-presidente da Diretoria Executiva foram conduzidas sem transparência e sem que fossem fornecidas informações aos membros do Conselho Curador”. Para ele, é preocupante o teor de muitas matérias da mídia dando conta de decisões tomadas pelo governador à revelia do Conselho. Elas “elencam uma série de violações à lei e ao Estatuto da Fundação Padre Anchieta”, diz ele.

Noronha afirma que a Fundação é pessoa jurídica de direito privado e independente do poder do Estado, sem fins lucrativos. Segundo ele, o artigo 5 dos Estatutos é peremptório em afirmar que “não poderá a Fundação utilizar, sob qualquer forma, a rádio (Cultura) e a televisão educativas, bem como quaisquer outros meios de comunicação multimídia”, para “fins políticos partidários”. “Por sua vez, a competência para a eleição do diretor-presidente da Diretoria Executiva é privativa do Conselho Curador”, afirma ele, mais uma vez recorrendo ao Estatuto, citando que a atitude de Doria configura “desvio de finalidade da Fundação” e usurpação de poderes.

Ministério Público

Em conversa com o Portal Vermelho, Noronha disse que encaminhou o caso ao Ministério Público, que tem a prerrogativa de oferecer denúncia judicial. Para ele, todo o processo foi marcado pela arrogância e a ignorância de quem deveria zelar pela lisura da eleição. Segundo Noronha, o que está por trás da tramoia é a ânsia de Doria e sua turma em transformar a TV Cultura em uma emissora comercial. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o governo já iniciou uma reformulação conceitual e administrativa da TV.

José Roberto Maluf, o presidente eleito no processo viciado, conforme a denúncia de Noronha, é egresso das redes de televisão Bandeirantes e Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), além de ter sido executivo numa empresa de Doria. Segundo a colunista da Folha Monica Bergamo, a jornalista Helena Bagnoli diz ter sido convidada e depois “desconvidada” para a assumir a presidência da Fundação Padre Anchieta. Segundo ela, o motivo foi um post no Facebook declarando voto em Márcio França (PSB), oponente de Doria nas eleições 2018.