Zé Maria, 70, e Biro-Biro, 60: dois ídolos de um tempo que se perdeu

A foto que ilustra este texto foi tirada por Domício Pinheiro, fotógrafo do Estadão que cobriu a Copa do Mundo de 1970. Aí estão Clodoaldo, Rivelino, Pelé e Tostão, titulares da melhor Seleção Brasileira de todos os tempos – o timaço que voltou do México com o tri mundial e a conquista definitiva da Taça Jules Rimet. Mais à direita, aparece um jovem lateral da Portuguesa, reserva do capitão Carlos Alberto Torres. Seu nome: José Maria Rodrigues Alves. Seu apelido: Zé Maria.

Por André Cintra

Seleção Brasileira, 1970 - Domício Pinheiro

Neste sábado (18), o “Super Zé”, também apelidado de “Cavalo de Aço”, fez 70 anos, conforme recordou, em nota, o CDC (Coletivo Democracia Corinthiana). Mas também foi aniversário de outro ídolo do Timão, o volante Biro-Biro (Antônio José da Silva Filho), que completou 60 anos e foi igualmente lembrado, com justiça, pelo CDC. Diferentemente de Zé Maria – que voltou a ser relacionado para uma Copa e até disputou algumas partidas no Mundial-1974, na Alemanha –, Biro-Biro jamais foi convocado para a Seleção Brasileira.

Esta talvez seja a diferença mais óbvia entre as carreiras desses jogadores. De qualquer maneira, creio não haver, na história do Corinthians, dois nomes com mais curiosidades comuns. Para começo de conversa, como já disse acima, os dois nasceram em um 18 de maio e, portanto, fizeram aniversário ontem.

Eles se tornaram ídolos – e até xodós – da torcida corinthiana, mas não necessariamente eram jogadores decisivos, inspirados, cracaços. Ao contrário, sobressaíram mais pelo preparo físico, pela raça, pela entrega em campo. Jogaram, ambos, por outros clubes, mas são profundamente identificados com o Timão. Estão entre os cinco atletas que mais atuaram com a sagrada camisa alvinegra. Zé Maria realizou 598 partidas pelo Corinthians, e Biro-Biro, 590.

Embora tenham sido campeões paulistas por quatro vezes, cada um deles é lembrado por um título em especial. Zé Maria integrou elenco que, em 1977, ajudou o Corinthians a quebrar o tabu de 23 anos sem títulos – ele cobrou a falta que resultou no histórico gol de Basílio. Já Biro-Biro ficou particularmente marcado pelo Campeonato Paulista de 1982, em que, na final, fez dois gols contra o São Paulo.

Muitos jogadores do Corinthians concorreram à Câmara dos Vereadores de São Paulo – os últimos, salvo engano, foram Marcelinho Carioca, Dinei e Wladimir. Mas só Zé Maria e Biro-Biro venceram também nas urnas. E há mais coincidências: um e outro foram eleitos quando ainda eram jogadores e tinham acabado de conquistar um Paulistão – Zé Maria em 1982, com 33 mil votos, pelo PMDB, e Biro-Biro em 1988, com 39 mil votos, pelo PDS.

O ponto mais convergente entre os dois é que não se fazem mais ídolos como eles. Zé Maria permaneceu no time profissional do Corinthians por 13 anos, e Biro-Biro, por dez. Há cada vez menos registros de atletas que se vinculam tão intensamente – e por um período tão prolongado – a um único clube, nacional ou estrangeiro.

Se a economia brasileira naufragou nesta década – com uma prolongada recessão seguida de estagnação –, a economia do futebol brasileiro patina há mais de 20 anos. Na bola, o Brasil não acompanhou o salto exponencial de outros mercados, sobretudo a Europa Ocidental – mas também gigantes econômicos sem tradição no futebol, como Estados Unidos e China. Perdemos jogadores até para países do segundo escalão do futebol e da economia – a Ucrânia e o Uzbequistão, por exemplo.

Celebremos, pois, Zé Maria e Biro-Biro, por eles e por um tempo que se perdeu – basicamente os anos 70 e 80 do século passado. Há sempre um ou outro trunfo nas coisas do tempo presente. Mas os ídolos de hoje, embora continuem a vir das camadas populares, “esquecem” suas raízes com a mesma rapidez com que sonham em deixar o clube e o País.