Pernambuco homenageia a guerreira Tereza Costa Rêgo nesta quinta 

Amanhã (16), a partir das 15h, o auditório Sérgio Guerra, da Assembleia Legislativa de Pernambuco, vai receber centenas de amigos e admiradores da artista plástica Tereza Costa Rêgo, em justa homenagem por seus 90 anos completados em abril. A iniciativa desse ato de respeito e admiração é do deputado estadual João Paulo (PCdoB-PE), em reconhecimento a contribuição da artista à cultura pernambucana e brasileira e de sua luta por um Brasil mais soberano, democrático e justo. 

Pernambuco homenageia a guerreira Tereza Costa Rêgo nesta quinta - Divulgação

“Tereza, mulher guerreira e engajada, artista de grande talento e importância na pintura modernista, local e universal. Vamos saudar essa mulher de sensibilidade e garra que, aos 90 anos, continua produzindo arte da melhor qualidade, mas sempre atenta ao seu país e a seu povo. Consagrada por exposições nacionais e internacionais, Tereza enfrentou o exílio e a violência da ditadura, enfrentou perseguições e dificuldades, mas não perdeu a esperança e a delicadeza na arte e na vida”, destaca o parlamentar.


Deputado estadual João Paulo Lima (PCdoB-PE)

As três vidas de Tereza

Em entrevista ao Diario de Pernambuco publicada recentemente pelo Portal Vermelho, Tereza resume: “Vivi três vidas em uma”. “A artista nasceu em 1929 e parecia destinada a reproduzir o destino das moças de famílias tradicionais recifenses: bem educada, bem casada e cuidada pelos cinco irmãos mais velhos. No entanto, essa não era a vida que Terezinha – seu nome de batismo – desejava para si”.

“A arte sempre fez parte de sua vida, mas nem sempre como fonte de seu sustento. Quando era jovem, Tereza fez Escola de Belas Artes e conheceu amigos de toda uma vida. Reynaldo Fonseca, Aloisio Magalhães, Gilvan Samico, Francisco Brennand foram alguns de seus colegas. Com o tempo, veio um casamento bem longe do ideal, embora dinheiro não faltasse. Quando conheceu o dirigente comunista Diógenes Arruda, houve o fim do primeiro ciclo de sua vida. Apaixonou-se por ele e separou-se do então marido. ‘Sempre fui uma transgressora nata. Paguei muito caro para ser livre.’”

Ainda de acordo com o texto do DP, “com o golpe militar, Tereza precisou sair do Brasil. Viajou o mundo como Joanna, seu codinome pelo Partido Comunista, sempre ao lado de Diógenes. Pintava quadros, mas dificilmente poderia ficar com eles, dada a sua situação nômade por conta do exílio.

“Dei minhas telas de presente a pessoas em vários lugares do mundo.” Entre as dores, estava a de ficar longe das duas filhas e de Pernambuco, de onde sentia saudade de coisas simples, como comer pitanga. Após passar 18 anos como Joanna, soube, com Diógenes, da Lei da Anistia. Os dois voltaram, mas ele faleceu na chegada, ainda no aeroporto, em 1979. Da dor, Joanna se tornou Tereza. “Sempre tinha sido consequência dos outros: filha, irmã, esposa. A partir daquele momento, decidi ser eu. Antes, eu era uma pintora bissexta. Mas, na minha vida atual, eu pinto, pinto, pinto e vivo das minhas mãos”, contou.

Abraçando a pintura

“Foi a partir dessa necessidade de reconstruir a própria vida que Tereza decidiu se fixar em Olinda, onde passou a abraçar a pintura com força – sua produção cresceu e sua reputação como pintora relevante também. Desde os anos 1980, ela produz com ímpeto telas que deram origem a exposições como Imaginário do bordel – o parto do porto (2003). Na mostra, a artista materializou em imagens as histórias de bordel ouvidas enquanto fingia que dormia no colo de seus irmãos. O trabalho que a comove nos últimos tempos é As mulheres de Tejucupapo (foto abaixo), o maior quadro de sua vida, com 15 metros de largura, finalizado recentemente e que levou quatro anos para ficar pronto. O olhar épico, afinado com o de grandes pintores, como o de Brueghel, Portinari e Goya, traz quatro planos diferentes e revela uma maturidade artística inquestionável”.


"Mulheres de Tejucupapo"

“Embora tenha sido atingida por tragédias pessoais, Tereza é a imagem da resiliência. Resistir pela arte é o caminho que ela decidiu tomar desde que perdeu seu amor, Diógenes Arruda, e encontrou a si própria por meio da pintura. “Você não sabe como o exílio é terrível, mas de todas as coisas ruins que me aconteceram, me acostumei a ver ao menos algum lado bom.”

Do Recife, Audicéa Rodrigues, com informações do Diario de Pernambuco e do Portal Vermelho.