Israel tornou a Palestina um campo de extermínio

Em mais uma costumeira rodada bélica e de macabra matança na Palestina, Israel leva à morte mais 25 pessoas, a quase 200 feridas, destruição de infraestruturas civis, residências e instalações comerciais, agrícolas e industriais, em claro movimento de impedimento do progresso econômico e social da população palestina confinada na denominada Faixa de Gaza.

Por Ualid Rabah*

Gaza Palestina

Como parece ser o objetivo deliberado de Israel, já demonstrado nos ataques sistemáticos a esta parte da Palestina ocupada desde pelo menos 2008, bem como no restante do território palestino, entre os assassinados encontram-se crianças e bebês de poucos meses de vida, mulheres, entre elas grávidas. Trata-se de mais uma clara evidência de que o intento israelense é o de promover a limpeza étnica por meio do impedimento da reprodução da população palestina (freio demográfico) de um lado e, de outro, da imposição do terror entre os jovens para que migrem de Gaza (declínio demográfico).

Esta nova rodada genocida de Israel só pode ser compreendida quando inserida num contexto maior, que tem por marco para o atual quadro a “retirada” unilateral de Israel da Faixa de Gaza, em agosto de 2005, dali retirando, também, os colonos judeus implantados a força desde 1967. Esta retirada não foi negociada e, enquanto se realizava, era anunciado por Ariel Sharon, o então primeiro-ministro israelense, que na chamada Cisjordânia algumas medidas seriam adotadas, dentre elas a manutenção de colônias judaicas ali implantadas também a partir de 1967, a anexação de parte deste território e a construção de uma “barreira de segurança”, que nada mais é do que o MURO DO APARTHEID, com o qual se tem efetivado o confisco de terras agricultáveis palestinas, seus recursos hídricos e a destruição da mínima contiguidade territorial, vale dizer, a inviabilização de qualquer ideia de Estado Palestino. Então, a “retirada” era para, a um só tempo, bloquear-se Gaza e confiscar-se na Cisjordânia, ocupando-a ainda mais.

Desde então Israel promoveu o bloqueio total da Faixa de Gaza, a atacou de forma bárbara em 2008/2009, 2012 e 2014, para citarem-se apenas os banhos de sangue recentes, provocando milhares de mortes, feridos, grande parte mutilados, destruição da quase totalidade das infraestruturas civis, como as de saúde, de eletricidade, de água potável e de saneamento básico incluídas, também as econômicas. Perto de 50% das residências foram total ou quase totalmente destruídas, além de impedidas suas reconstruções. De lá para cá o bloqueio foi intensificado, impedindo os movimentos de pessoas, bens e serviços. Mesmo os deslocamentos por motivo de saúde têm sido impedidos, bem como o ingresso de medicamentos e equipamentos hospitalares.

Os efeitos genocidas pretendidos já são uma realidade. A fome atinge dezenas de milhares de palestinos residentes em Gaza e este estado de coisas é denunciado como uma arma de Israel contra os palestinos. Em claro intento de genocídio e de limpeza étnica, Israel planificou a entrada de apenas 106 caminhões ao dia e contendo somente o mínimo necessário de bens básicos à vida. Este número era de quase mil caminhões ao dia (935 em média). Em diversos momentos, a entrada permitida por Israel mal chegou a 60 caminhões ao dia.

Bloqueio e ataques seguidos que impedem a reconstrução social e econômica, bem como destroem ainda mais o que já se encontra em situação deplorável, são, na verdade, o grande experimento genocida promovido por Israel na Palestina ocupada. Sua intenção é clara e já pode ser sentida, quanto ao intento de limpeza étnica, em pelo menos um aspecto: o desespero da juventude, já em fuga de Gaza. São milhares os que buscam, individualmente, auxílio no exterior para deixar o território. É a fuga da geração que garantiria a reprodução da população, a inovação, o crescimento econômico, enfim, a continuidade da Palestina. E isso é deliberada LIMPEZA ÉTNICA, é claro projeto GENOCIDA.

Assim, o mundo deve não apenas condenar mais esta rodada insana de matanças em Gaza, mas denunciar e condenar veementemente o experimento genocida em curso e exigir o fim imediato do bloqueio desumano que mata, há 12 anos, mais do que os mísseis e os canhões. O mundo deve, ainda, exigir que Israel cumpra todas as resoluções da ONU e que respeite toda a legislação internacional, especialmente a humanitária, para a Palestina. Deve, também, ser apurada a totalidade dos crimes de lesa humanidade e de guerra perpetrados por Israel na Palestina, todos fartamente documentados e já levados às instâncias internacionais pertinentes.

Por fim, é preciso que Israel se retire de todos os territórios ocupados, Jerusalém incluída, e reconheça os direitos nacionais, civis e humanitários do povo palestino, dentre eles o de retorno dos refugiados, em acatamento à Resolução 194 do Conselho de Segurança da ONU, e ao Estado da Palestina.

Sem isso não haverá paz na Palestina ou na região, cumprindo destacar que o ocupante é Israel, quem desrespeita o Direito Internacional é Israel, quem não cumpre acordos assinados por ambas as partes é Israel, quem promove regime segregacionista e de apartheid é Israel. Estes crimes de lesa humanidade são israelenses e não palestinos. E é tão criminoso quanto Israel quem apoia estes crimes, direta ou indiretamente.

Portanto, pedimos aos governos de todo o mundo, aos líderes políticos, sociais e religiosos, às personalidades globais, às organizações sociais, e mesmo aos líderes empresariais, que condenem os crimes de Israel, que adotem inciativas concretas, especialmente no campo econômico e diplomático, que contenham o regime israelense e, mais do que tudo, apoiem a existência da Palestina, somando-se aos atuais 140 países que a reconhecem como Estado.