Cresce a tensão entre militares e a ala de extrema-direita do governo 

A disputa entre as duas alas mais próximas de Bolsonaro se acirra e os ataques aumentam via redes sociais. O ex-comandante do Exército defendeu as Forças Armadas das agressões de Olavo de Carvalho, guru do presidente da República. 

Bolsonaro Olavo

No que parece ter sido uma espécie de ultimato para conter os ataques aos militares promovido por Olavo de Carvalho, espécie de guru da ala de extrema-direita do governo Bolsonaro, o general Villas-Boas, ex-comandante do Exército e atualmente assessor do Ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e também general, Augusto Heleno, divulgou em suas redes sociais mensagem em que afirma que Carvalho “age no sentido de acentuar as divergências nacionais”. Ao abordar publicamente as divergências, Villas-Boas reduz a margem de manobra de Jair Bolsonaro, que não consegue manter o mínimo de equilíbrio entre duas alas de seu governo que se digladiam há algum tempo.

Ao mesmo tempo em que amplia a presença de oficiais das Forças Armadas em organismo do governo federal – o número já estaria beirando uma centena e meia -, o ex-capitão faz afagos à Olavo de Carvalho – a quem concedeu a principal comenda do Itamaraty sem que houvesse a menor razão para tal – e neste domingo (5) endossou um ataque de seu guru ao general Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo. A manifestação de Bolsonaro, via Twitter, em que se contrapõe a Santos Cruz quanto à necessidade disciplinar a atuação de representantes do governo nas redes sociais acentuou as contradições. Simpatizantes de Olavo de Carvalho usaram o texto do presidente para reforçar os ataques ao ministro. Segundo a coluna Painel, da Folha de São Paulo, militares que atuam no Palácio do Planalto reagiram afirmando que o gesto de Bolsonaro “não é construtivo para ninguém”.

A tensão aumentou ainda mais depois que Olavo de Carvalho voltou a atacar Santos Cruz na noite de domingo (5) e na manhã desta segunda-feira (6). Pelo Twitter, Carvalho chama Cruz de “fracote enfezadinho”e “sem personalidade” e o desafia para o debate. Na reação divulgada pela mesma rede social, o general Villas-Boas toma para a instituição militar as agressões e afirma que o guru do presidente “a partir de seu vazio existencial derrama seus ataques aos militares e as FAA demonstrando total falta de princípios básicos de educação, de respeito e de um mínimo de humildade e modéstia”.

Nos quatro meses de seu governo, Bolsonaro já demonstrou que não consegue conter as manifestações da ala de extrema-direita, da qual fazem parte seus três filhos e alguns ministros mais próximos. A reação do ex-comandante do Exército, que tem grande influência entre as Forças Armadas, tende agudizar as contradições internas do governo e o desfecho é imprevisível, até o momento.