Janio de Freitas: Golpe na Venezuela se desmoraliza com Bolsonaro

Em sua coluna no jornal Folha de S. Paulo intitulada “Outras histórias”, jornalista diz que Bolsonaro só pode propor miudezas de segundo e terceiro escalão.

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De acordo com o jornalista, apesar da quantidade de países liderados pelos Estados Unidos contra o governo da Venezuela, Jair Bolsonaro não precisa de ninguém para, sozinho com sua falta de senso, desmoralizar a tentativa de derrubar o presidente Nicolás Maduro.

"Eu elogio o espírito patriótico e democrático por lutar pela liberdade no seu país" e "para instalar a democracia na Venezuela", repete ele sobre os oposicionistas. “Em sua boca, as palavras liberdade e democracia denunciam uma farsa, impossibilitadas de significado honesto em quem defende o golpe e a ditadura no Brasil, a tortura e os crimes de morte da repressão militar. E tem o facinoroso coronel Brilhante Ustra como seu herói”, escreve o jornalista.

Maduro tem muito pouco de Hugo Chávez, que tinha uma concepção de país e, apesar de erros políticos, a noção do que fazer com seu projeto. E fez grande parte dele, contra a realidade social na Venezuela, uma das piores na América do Sul. Esse legado é o poder de Maduro, analisa Janio de Freitas.

“Trump não respeita nem a democracia do seu país, Bolsonaro a combate aqui desde jovem. Seria então a democracia a mobilizá-los, com uma dúzia de governantes sul-americanos, contra a situação venezuelana? A história é outra. É a de sempre. Inclusive na imprensa do continente”, afirma.

Lenga-lenga

“Todos os números que importam, na síntese que retrata a situação do Brasil, estão negativos. A derrocada é extensiva e intensiva. Paulo Guedes, na verdade, está voando entre os astros, distraído. A desculpa é a espera da ‘reforma da Previdência’, como se fosse um milagre que a tudo ativaria, inclusive a Paulo Guedes. Ou como se nada fosse factível antes de tal milagre”, complementa.

Prossegue ele: “Vez ou outra, para mostrar-se vivo, um acréscimo à lenga-lenga. Agora, ‘o governo prepara a privatização do gás para baixar o preço’. O gás é mesmo muito caro. Mas nada do que foi privatizado teve o custo reduzido para o consumidor. E atribuir à privatização do gás mais 12 milhões de empregos em dez anos é uma apelação com cinismo excessivo. A Petrobras está sendo liquidada sem que os vendedores encontrem reação. Logo, dispensem-se as tapeações.”

Segundo Janio de Freitas, Bolsonaro só pode propor o que, para o nível presidencial, são miudezas de segundo e terceiro escalão, como as fotomultas nas estradas e a duração da carteira de motorista. “Paulo Guedes aceitou a tarefa de supri-lo. Mas parece até se esconder dos números negativos, em vez de os enfrentar. Nunca tem nem sequer o que dizer a respeito, como é de sua obrigação com os cidadãos”, conclui.