Bolsonaro e o ataque ao livre pensar: um projeto de dominação

O ataque do governo Bolsonaro à cultura, ao conhecimento e às ciências não é algo aleatório, fruto apenas de ignorância ou de um exotismo qualquer. Trata-se de um projeto. Para além do seu desdém pela universidade pública e pelos temas relacionados à subjetividade e à identidade de nosso povo, o presidente quer minar o pensamento crítico e a capacidade de reflexão dos brasileiros.

Por Luciana Santos*

Luciana Santos - Foto: PCdoB na Câmara

Em pouco menos de cinco meses, as notícias que vêm do Planalto são desalentadoras. O atual governo promove uma verdadeira guerra às universidades. Importantes espaços de construção de saber, elas têm sido desprestigiadas não só com arrocho financeiro, mas com difamações de viés moralista e ideológico. Para Bolsonaro e sua visão privatizante, “parte considerável delas, é dinheiro jogado fora”. Para nós, as instituições de ensino superior são uma forma de mudar a realidade social e projetar um futuro melhor.

Apoiador do projeto “Escola Sem Partido”, sob a justificativa de combater dois inimigos inexistentes – a doutrinação marxista e a ideologia de gênero -, o presidente parece ter escolhido os professores como alvo prioritário de seu enfrentamento. Docentes, que historicamente já sofriam com a precarização e a desvalorização de seu trabalho, passaram a vivenciar também um processo de criminalização de sua atividade.

O desprezo do atual governante do país pela ciência está explícito não só no corte de recursos, mas nas declarações estapafúrdias e no total desconhecimento sobre o saber produzido no país. Agora, ele centra seus canhões no ensino das ciências humanas, em benefício de uma formação que seja voltada para o lucro dos grandes empresários, a manutenção do status quo e a ausência de questionamentos e ideias.

Essa é a mesma lógica que o faz querer sufocar a cultura, algo que começou com a extinção da pasta específica para o setor e passa pela tentativa de aniquilação do fomento à produção cultural, pela perseguição a artistas discordantes e até mesmo pela censura. E trata-se também do mesmo germe que levou o governo a decretar o fim da comunicação pública, com a fusão da TV Brasil à NBR.

Por trás de tudo isso está o medo do livre pensar, do saber que liberta. Os professores, a universidade, o conhecimento e a cultura são malvistos pelo atual governo justamente porque nos ajudam a compreender o mundo, nossa história e a nós mesmos. Contribuem para desenvolver nosso senso crítico, não aceitarmos a injustiça e a opressão. Nos fornecem oportunidades para progredirmos. A liberdade tem a ver com a capacidade que a gente tem de compreender os fenômenos que nos cercam, sejam eles da natureza ou sociais.

Nada disso interessa a quem tem um projeto antidemocrático, antipopular e antinacional, que inclusive ignora o papel de todo esse conhecimento – formal ou não – em aspectos como a construção da identidade brasileira, o desenvolvimento nacional e a atividade econômica do país. Basta lembrar que só a Cultura movimentava 4% do PIB, antes do aprofundamento de seu desmonte.

As forças que hoje estão no poder desejam uma sociedade de não pensantes, porque não querem oposição. O obscurantismo que nos assombra é instrumental para a retirada de direitos e o ataque aos trabalhadores. Não vamos permitir que ele se espraie. A cultura, os saberes e fazeres do povo são a alma de uma nação. Seremos resilientes e resistiremos diante desta investida de caráter fascista.