Veja revela sombra e negócios suspeitos do clã Bolsonaro

Sob o título “O sombra do presidente”, a revista traz reportagem dizendo que existe um misterioso advogado cuja missão é proteger Bolsonaro e seus filhos contra inimigos, armadilhas e encrencas.

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Segundo a revista, trata-se de Frederick Wassef, de 53 anos (na foto), um personagem que não gosta de ser fotografado. “É uma precaução de quem se considera rodeado de inimigos declarados, conspiradores e adversários travestidos de aliados. É também uma questão de estilo: Fred, como é conhecido, prefere atuar nos bastidores, longe dos holofotes”, diz o texto.

Advogado criminalista, ele já trabalhou para pesos-pesados da iniciativa privada, como Flávio Rocha, dono da Riachuelo, e a família Guimarães, proprietária do banco BMG, mas hoje se dedica principalmente a um cliente especial: o clã dos Bolsonaro. Fred orgulha-se de ser protetor da primeira­-família da República, um trabalho que, segundo diz na praça, ele faz de graça, por puro patriotismo, diz a Veja.

Digitais

Ele não atua formalmente em processos abertos contra o presidente e seus filhos, mas participa da escolha de advogados e da definição de estratégias que serão empregadas nos tribunais e até na imprensa. “Sua missão mais imediata é resguardar o mandato do senador Flávio Bolsonaro, o filho mais velho do presidente, e distanciar o clã dos rolos financeiro-milicianos do ex-motorista Fabrício Queiroz. Já seu objetivo a longo prazo é o mesmo de Jair Bolsonaro: impedir a volta do PT ao governo ou a chegada de qualquer outro partido de esquerda ao poder”, escreve a revista.

De acordo com a matéria da Veja, apesar de Fred atuar nas sombras suas digitais aparecem em diferentes processos judiciais. Ele indicou um dos criminalistas que defendem Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal da acusação de incitação ao estupro apresentada pela deputada Maria do Rosário (PT­-RS). Em 2014, Bolsonaro disse que a deputada não “merecia” ser estuprada porque era feia. Em razão da imunidade temporária garantida ao presidente da República, o processo está suspenso.

Em 2015, Fred também participou da operação para arquivar uma investigação aberta pelo Ministério Público sobre as duas casas de propriedade de Bolsonaro em um condomínio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. A suspeita era que Bolsonaro havia subfaturado os valores dos imóveis ao declará-los à Receita Federal porque não teria como justificá-los com base em seus rendimentos. Então procurador-geral da República, Rodrigo Janot arquivou o caso devido à “ausência de elementos mínimos que apontem para a prática de ilícitos penais”.

Vice

Segundo a Veja, Fred propôs que o empresário Flávio Rocha, de quem é amigo, fosse escolhido como vice na chapa presidencial. Se a proposta fosse aceita, Rocha poderia empenhar até 70 milhões de reais do próprio patrimônio para custear a campanha no primeiro turno. Bebianno se opôs. Os resultados são conhecidos: o general Hamilton Mourão ficou com a Vice, e a campanha de Bolsonaro gastou 2,4 milhões de reais, conforme declarado à Justiça Eleitoral. Em fevereiro, o presidente demitiu Bebianno depois de ter sido convencido pelo vereador Carlos Bolsonaro, o Zero Dois, de que ele conspirava contra o governo.

A revista diz também que Fred contribuiu para a exoneração a revelação de um esquema de desvio de recursos públicos praticado durante a campanha pelo partido de Bolsonaro, o PSL, então presidido por Bebianno. Em conversas reservadas, Fred foi à desforra e disse que já havia alertado o presidente sobre o laranjal cultivado por seu desafeto. De acordo com a Veja, quando começavam a estreitar a relação, Bolsonaro e Fred fizeram uma transação comercial. Em 2015, o presidente comprou um Land Rover preto modelo 2009/2010 da empresa Compusoftware, que na época era comandada por Cristina Boner, com quem Fred mantinha um relacionamento amoroso.

A sede da Compusoftware ficava em São Paulo, mas Bolsonaro, que já trabalhava em Brasília e morava no Rio, interessou-se pelo automóvel. Adversários do advogado espalham a versão de que o carro, blindado, foi um presente do amigo a Bolsonaro. A Veja, Cristina Boner informou que uma agência de veículos intermediou o negócio e que Bolsonaro quitou a compra por meio de uma transferência eletrônica de 50 000 reais — embora o veículo, na época, fosse avaliado em cerca de 77 000 reais.

Land Rover

Ainda segundo a reportagem, semanas depois desse esclarecimento, Bolsonaro repassou o Land Rover a André Garcia, que se apresenta como seu ex-segurança e integra o Grupo de Pronta Intervenção da Polícia Federal. Garcia pôs o carro à venda e está cobrando 60 000 reais — 10 000 reais a mais do que Bolsonaro pagou quatro anos antes. Ou seja, ou o automóvel se valorizou com o passar do tempo, o que seria uma raridade, ou o presidente conseguiu uma pechincha ao arrematá-lo.

Não é o único caso envolvendo o advogado, um carro importado e um membro do clã Bolsonaro, diz a matéria. Fontes ligadas à família contam que no ano passado Fred, durante uma cerimônia militar no Rio, ofereceu um Land Rover de presente ao deputado Eduardo Bolsonaro. O Zero Três teria recusado, por ver na oferta uma tentativa de compra, digamos, de sua simpatia. Diante da recusa, o advogado teria dito que tudo não passava de uma brincadeira.