Os Dead Kennedys estão mortos!

"Os novos Kennedys há muito tempo já sem Biafra, soam como uma imitação barata de si mesmos. Com a embalagem que engana, mas um conteúdo que não convence".

Por Rodrigo Barradas*

Dead Kennedys

A vinda da banda norte americana de hardcore Dead Kennedys, que está programada para iniciar sua turnê no Brasil no dia 23 de maio, no Rio de Janeiro, já deu o que falar. O cartaz oficial da tour por aqui, que chegou inclusive a ser postado pelo grupo em sua página no Facebook e nos stories do Instagram foi retirado e os membros lançaram uma nota se fazendo de desentendidos e deixando a batata quente na mão do excelente artista Cristiano Suarez. Diziam não saber o suficiente sobre o Brasil para opinar sobre a política do país. Negaram que tivessem autorizado o seu uso.

Os Dead Kennedys são, talvez, quem inaugure de forma excepcional o sarcasmo e a ironia política na música hardcore, fazendo escola na terra do Tio Sam e por onde o estilo se espalhou, como no Brasil, onde bandas como o Ratos de Porão e posteriormente o Dead Fish, souberam empregar tão bem em suas letras. A música California Über Alles (Califórnia Acima de Todos – fazendo referência à máxima nazista e que, pasmem, lembra o jargão do Governo Bolsonaro) criticava a ascensão do então governador daquele estado norte americano, Jerry Brown, que se camuflava por trás de um pretenso zen-budismo, o que para Jello Biafra, vocalista e líder dos Kennedys na época, soava como fascismo. É bom lembrar que no fim da década de 1970 e começo dos anos de 1980 várias seitas que se pretendiam libertárias do ponto de vista espiritual eram grandes armadilhas, como no caso Jonestown de Jim Jones, que terminou com o suicídio coletivo da maior parte dos seus membros.

Em Holliday em Cambodia (Feriado no Camboja), Biafra, mais uma vez, descarregava sua metralhadora verborrágica, agora sobre falsos progressistas endinheirados, que se beneficiavam do consumismo capitalista ao mesmo tempo em que divagavam sobre o que se passava no Camboja. Os Kennedys, ali, e na verdade sob a mente do seu grande criador, Jello Biafra, mostravam que não deixariam nenhum hipócrita de pé. A banda punk gaúcha "Os Replicantes", lá nos idos dos anos de 1980 cantava na música "Festa Punk": "quero uma festa com os Kennedys. Eles é que sabem o que é hardcore". Então, o que mudou? Bem, parece que isso ficou no passado. Lá, atrás, quando a banda acabou a primeira vez. Os novos Kennedys há muito tempo já sem Biafra, soam como uma imitação barata de si mesmos. Com a embalagem que engana, mas um conteúdo que não convence. Como disse Marx: "A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.

Já Biafra, segue o mesmo. Agora sexagenário toca com sua banda "Jello Biafra and Guantanamo School of Medicine" com a mesma postura de quando começou. Com sua performance teatral, quase catártica, ainda aperta como ninguém o gatilho mental que faz disparar sua metralhadora de sarcasmo político contra o conservadorismo, contra o fascismo, contra o racismo, agora travestido nos Alt-Right, contra o capitalismo e contra o establishment. Lá no passado, a fim de expulsar os conservadores que se infiltravam no cenário punk/hardcore, cantou: "Punks nazistas vão se foder". Entrou para o ativismo político. Disputou a Prefeitura de San Francisco, ficando em quarto lugar entre dez candidatos. É membro do Partido Verde Americano. Aquela energia juvenil nunca o abandonou. Ver hoje o abismo que se formou entre os atuais Dead Kennedys – que sequer compõem músicas novas – e o seu antigo cérebro, Biafra, sempre em funcionamento, nos faz lançar não um questionamento, mas uma afirmativa: Os Dead Kennedys estão mortos – com o perdão do trocadilho.

Biafra neles!