“Situação em Moçambique ainda é dramática”, afirma ativista

 No mês passado, o ciclone Idai devastou o sudeste da África, causando mais de mil mortes. Milhões de pessoas ainda lutam para sobreviver, relata a ativista humanitária Ninja Taprogge, em entrevista à DW.

Moçambique - Foto: DW

Ninja Taprogge trabalha na seção alemã da organização de ajuda humanitária CARE. Atualmente, ela se encontra em Moçambique, em regiões que até agora não haviam recebido apoio.

Em entrevista à DW, ela relatou que apenas 23% dos 250 milhões de euros reivindicados foram garantidos pelas Nações Unidas. "Isso é muito pouco e realmente nos preocupa como organizações de ajuda."

"É importante fornecer ajuda imediata porque algumas pessoas não comem nada há quatro semanas. Temos que distribuir comida agora mesmo", apontou a ativista.

Deutsche Welle: Você está atualmente em Moçambique, o país mais afetado pelo furacão Idai. Qual a sua impressão da situação?

Ninja Taprogge: A situação em Moçambique ainda é dramática. Acabei de chegar da região da Beira. Muitos lugares ainda estão afetados por enchentes. Estivemos há poucos dias num pequeno vilarejo chamado Guarda Guarda.

Lá, as pessoas não receberam nenhuma ajuda. Distribuímos comida para 2 mil famílias. Cada uma delas recebeu 30 quilos de arroz, cinco quilos de feijão e dois litros de óleo.

O que as pessoas lhe dizem no local?

Falei com uma mulher que há semanas come apenas o milho que encontrou em seu cultivo. A região ao redor do vilarejo estava completamente inundada. Ela também me mostrou o milho. Ele cheirava mal e estava totalmente sujo.

Ela me disse que um de seus filhos agora está com dor de estômago e sofrendo de diarreia. Nós também visitamos as plantações – elas foram completamente destruídas.

Com são as condições de vida das pessoas?

Muitos moram em abrigos. O governo acabou de divulgar novos números hoje. As pessoas vivem juntas num espaço confinado. Mais de 240 mil casas foram gravemente danificadas ou destruídas.

Levará muito tempo até que possam ser reconstruídas. Nós ajudamos distribuindo lonas e cordas para as famílias, para que elas possam ao menos montar acomodações temporárias.

Toda a infraestrutura também foi severamente afetada pelo ciclone Idai. Muitas escolas foram destruídas. Ajudamos a montar barracas para que aulas possam ser dadas novamente às crianças.

Que outras doenças são também problemáticas?

Especialmente malária. Abrigos temporários ou mesmo famílias que dormem ao ar livre contam com mosquiteiros para se proteger da doença. A propagação da enfermidade é uma grande preocupação para nós e outras organizações de ajuda no momento.

Quanto tempo a CARE pretende atuar no local? A ajuda é suficiente?

O maior problema continua sendo o fato de as plantações estarem completamente destruídas. Segundo estimativas de especialistas, mais de 700 mil hectares de terras agrícolas foram danificadas pelas inundações. É importante fornecer ajuda imediata porque algumas pessoas não comem nada há quatro semanas. Temos que distribuir comida agora mesmo.

Mas também temos que ficar lá por mais tempo. As pessoas precisam de sementes suficientes para trabalhar em seus campos novamente. No momento, esta crise está completamente subfinanciada. Apenas 23% dos 250 milhões de euros reivindicados foram garantidos pelas Nações Unidas. Isso é muito pouco e realmente nos preocupa como organizações de ajuda.

O que precisa acontecer em termos concretos nos próximos meses?

Precisamos de dinheiro para continuar a fornecer apoio imediato, mas também para construir e ajudar as pessoas a reconstruir suas casas. Precisamos dar às pessoas algo para ajudá-las a refazer suas plantações e garantir renda para suas famílias.