Há 58 anos, em Giron, Cuba impunha a primeira derrota militar aos EUA

Em 19 de abril de 1961 os Estados Unidos sofriam sua primeira derrota militar, imposta pelas forças armadas revolucionárias de Cuba e pelo povo cubano em armas.

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 Marlúzio F. Dantas*

 Por volta de zero hora do dia 17 de abril de 1961 (Ano Nacional da Educação), começou, em Praia Girón e Praia larga, o desembarque dos mercenários pagos e treinados pela CIA na América Central (Guatemala e Nicarágua), com apoio marítimo, aéreo e lançamento de paraquedistas. Pelotões de observações do batalhão 399 das milícias nacionais revolucionárias e das milícias camponesas enfrentaram os agressores, deram o alarme e retardaram o avanço inimigo.

O comandante em chefe, Fidel Castro Ruiz, ordenou a mobilização dos efetivos para a zona do conflito transferindo-se para a área da invasão para dirigir pessoalmente o contra-ataque, na linha de frente das operações. Os alunos da Escola de Oficiais da Milícia e dos batalhões de milícia constituíram a força inicial de choque que derrotou em Pálpite os mercenários, forçando sua retirada.

Releva consignar um fato ocorrido no dia 15 de abril de 1961, na Cidade de Liberdade, onde, por ocasião dos ataques aéreos prévios, destacou-se o ímpeto revolucionário de Eduardo Garcia Delgado, o jovem combatente que, na flor dos seus 25 anos, ao despertar com a explosão de bombas e metralhadoras, saiu para tomar seu lugar em baterias antiaéreas, conhecidas por "quatro bocas" pelo mesmo número de tubos de fogo que possuía. Corria para o seu quarto, quando um foguete o alcançou, ferindo-o de morte. Vendo o sangue que jorrava de suas feridas graves e consciente de que sua jovem existência lhe fora ceifada, Eduardo procurou, nos seus últimos minutos de vida, registrar o sentido da sua luta e, com os dedos encharcados de sangue generoso, escreveu em uma parede um nome muito querido para ele: “Fidel”, dando um significado valoroso à sua breve existência, assim como à sua morte.

Eternizando o gesto de amor e fé de Eduardo Garcia Delgado, o poeta nacional, Nicolás Guillén, assim cantou:

"Quando ele escreve com sangue: Fidel /

Aquele soldado que morre pela pátria /

Não diz misericórdia: /

Que sangue é símbolo /

Do país que vive …"

Assim ocorre com todos os heróis e mártires da pátria: eles são eternamente lembrados e amados com gratidão, emoção e respeito.

A juventude cumpriu com o slogan: “¡Muerte al Invasor! ” Afundou parte da frota naval inimiga, forçando o grupo naval a se retirar e derrubou cinco aviões dos mercenários.

Às 17:30 horas do dia 19 de abril de 1961, caiu em Playa Girón, o último reduto dos mercenários. Foram necessários somente 66 horas para os combatentes proporcionarem a derrota dos invasores, do que resultou 274 mortes, numerosos feridos e 1197 prisioneiros. A composição da brigada mercenária revelava os reais interesses que pretendiam implantar os apátridas. Uma análise de todos os prisioneiros demonstrou que os parentes de 800 deles, haviam possuído 370.628 hectares de terras, 9.666 casas e edifícios, 70 industrias, 10 centrais açucareiras e cinco minas e dois bancos. Figuram também 135 ex-militares da ditadura de Batista e 65 delinquentes, entre eles cinco conhecidos assassinos e torturadores. Não obstante apesar dessa apresentação idônea, foi dispensado a todos um tratamento humanitário.

Uma construção muito simbólica e poética marcou para sempre o triunfo em Girón e a Revolução Cubana, trata-se da história da pequenina Nemesia Rodriguez Montalvo, que à época do ataque à Praia Girón possuía apenas 13 anos. Nessa ocasião, em 17 de abril de 1961, muitas crianças morreram em decorrência dos bombardeios inimigos. Nemesia perdeu sua mãe, sua avó ficou inválida, seus irmãos ficaram feridos e seus primeiros sapatos brancos, cujo sonho de possuí-los povoou quase toda a sua pobre infância carvoeira, foram destroçados. Inspirado no sonho e na dor de Nemesia, o poeta cubano Jesus Orta Ruiz, o Índio Nabor, escreveu “Elegia de los zapaticos blancos”, transcrito aqui na língua pátria do poeta para que sejam mantidos em toda a sua fidedignidade sua força, sua forma e sua beleza.

Elegia de los zapaticos blancos

Vengo de allá de la ciénaga,

del redimido pantano.

Traigo un manojo de anécdotas

profundas, que se me entraron

por el tronco de la sangre

hasta la raíz del llanto.

Oídme la historia triste

de los zapaticos blancos…

Nemesia -flor carbonera-

creció con los pies descalzos.

¡Hasta rompía las piedras

con las piedras de sus callos!

 

Pero siempre tuvo el sueño

de unos zapaticos blancos.

 

Ya los creía imposibles.

¡Los veía tan lejanos!

Como aquel lucero azul

que en el crepúsculo vago

abría su flor celeste

sobre el dolor del pantano.

 

Un día, llegó a la ciénaga

algo nuevo, inesperado,

algo que llevó la luz

a los viejos bosques náufragos.

 

Era la Revolución,

era el sol de Fidel Castro,

era el camino triunfante

sobre el infierno de fango.

Eran las cooperativas

del carbón y del pescado.

Un asombro de monedas

en las carboneras manos,

en las manos pescadoras,

en todas, todas las manos.

Alba de letras y números

Sobre el carbón despuntando.

 

Una mañana… ¡Qué gloria!

Nemesia salió cantando.

Llevaba en sus pies el triunfo

de sus zapaticos blancos.

Era la blanca derrota

de un pretérito descalzo.

 

¡Qué linda estaba el domingo

Nemesia con sus zapatos!

Pero el lunes… ¡despertó

bajo cien truenos de espanto!

 

Sobre su casa guajira

volaban furiosos pájaros.

Eran los aviones yanquis,

eran buitres mercenarios.

 

Nemesia vio caer muerta

a su madre. Vio

sangrando a sus hermanitos.

Vio un huracán de disparos

agujereando los lirios

de sus zapaticos blancos.

 

Gritaba trágicamente:

¡Malditos los mercenarios!

¡Ay, mis hermanos! ¡Ay, madre!

¡Ay, mis zapaticos blancos!

 

Acaso el monstruo se dijo:

Si las madres están dando

hijos libres y valientes,

que mueran bajo el espanto

de mis bombas. ¡Quién ha visto

carboneros con zapatos!

 

Pero Nemesia no llora.

Sabe que los milicianos

rompieron a los traidores

que a su madre asesinaron.

 

Sabe que nada en el mundo-

-ni yanquis ni mercenarios-

apagarán en la patria

este sol que está brillando,

para que todas las niñas

¡tengan zapaticos blancos!

 

 

 

 

 

Segundo Fidel, “O povo cubano deu uma prova extraordinária, defendeu sua terra, defendeu sua honra. Além disso, o povo venceu e obteve perante ao mundo uma grande admiração. Alcançou grande prestígio por ter infligido ao imperialismo uma grande derrota, fez uma batalha em favor da paz. ” (Fidel Castro Ruiz em 23 de abril de 1961).

Essa batalha destruiu no continente o mito da invencibilidade do imperialismo, incentivou a luta dos povos da América e consolidou nossa Revolução Socialista.

No dia 16 de abril de 1961 foi proclamada a Revolução cubana com uma revolução socialista.

Antes da Revolução, portanto, antes de 1959, a realidade social de Ciénaga de Zapata era dramática, possuindo as seguintes características: Extrema pobreza, produção de carvão vegetal como único sustento das famílias, analfabetismo generalizado, população infantil dizimada pela desnutrição e parasitismo e meios de transporte precaríssimos, mantendo a região quase que isolada do restante do país.

Tal situação causou perplexidade, inclusive, em Raul Castro, que afirmou: “Eu pensei que a vida dos camponeses era mais difícil na Sierra Maestra do que em qualquer outro lugar. Mas pude comprovar que Ciénaga as vidas dos carvoeiros daquela área são incrivelmente inumanas e dolorosa” (Raul Castro, março de 1959).

Com o triunfo da Revolução, a luz do ensino chegou a Ciénaga de Zapata, podendo os fatos serem organizados de acordo com a seguinte cronologia: em julho de1959 chegam os primeiros professores ao território; Batey de Pálpite é escolhido em janeiro de 1961 para dar início a Campanha Nacional de Alfabetização; no mês seguinte, em fevereiro, como projeto piloto, 85 brigadistas chegam a Ciénaga para adquirir experiência no território; em abril do mesmo ano já existem 200 brigadistas alfabetizando em solo cienaguero; As primeiras graduações de alfabetizados do Plano Especial Ciénaga de Zapata são concluídas julho de 1961. Finalmente, em dezembro de 1961 o território é declarado livre do analfabetismo.

Em conclusão ao relato acima, quero concluir com os questionamentos a seguir que considero instigantes e intrigantes: por que os mercenários escolheram a Baia dos Porcos como ponto de desembarque? Por que o governo cubano escolheu exatamente a região de Ciénaga de Zapata como lugar onde primeiro deveria começar a Campanha nacional de Alfabetização? Por fim, qual ou quais motivos levam a revolução socialista cubana a resistir e sobreviver heroicamente há 60 anos contra a intensas e permanente agressões do imperialismo estadunidense?