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 Leci Brandão: Lembranças de Dona Ivone Lara, “essa joia tão rara”

Leci Brandão entrou para o samba através da porta que Dona Ivone Lara ajudou a abrir. Mulheres negras, cantoras e compositoras populares, artistas pioneiras e conscientes – sobram afinidades entre as duas. A convite do Prosa, Poesia e Arte e do Vermelho, Leci gravou um emocionante depoimento em homenagem à sua “generosa” e “carinhosa” amiga, que faleceu há um ano, em 16 de abril de 2018.

Por André Cintra

Leci Brandão e Dona Ivone Lara - João Wainer

Há três lembranças em destaque no vídeo. Uma delas remete a 1965, ano em que Ivone se tornou a primeira mulher a ter um samba-enredo gravado por uma escola de samba. A composição vencedora, na ocasião, foi Cinco Bailes da História do Rio, parceria da cantora com Bacalhau e Silas de Oliveira para a Império Serrano. “Ela ganhou depois de ter feito tantas obras no Império – mas ela não podia aparecer. Desta vez, não teve jeito”, diz Leci.

Em 1974, no segundo momento, as duas sambistas se conhecem pessoalmente. Leci passa a cantar nas rodas do Teatro Opinião, que ficava em Copacabana, no Rio, e era um dos mais celebrados do Brasil, ao lado do Arena e do Oficina, de São Paulo. Dona Ivone Lara já se apresentava com sucesso por lá. “Ela era o ponto alto da noitada de samba do Opinião”, resume Leci. “A Dona Ivone, naquela época, tocava um cavaquinho muito bom.”

A terceira recordação se volta para 1985. É quando Leci compõe, com Zé Maurício, Isso É Fundo de Quintal. Entre os artistas citados na letra, uma das mais belas na carreira de Leci, está a “grande dama do samba”, no verso “E dona Ivone Lara, esta joia tão rara, tão cheia de luz”.

Leci também lembra dois conselhos recebidos da amiga e parceira. Primeiro: dançar “miudinho”, e não com os “pés espalhados”. Segundo: dormir cedo na véspera de show. “Ela tomava conta da gente. Sempre foi aquela mãe, aquela matriarca dentro dos grupos de samba”, avalia Leci.

Confira abaixo o depoimento inédito de Leci Brandão sobre Dona Ivone Lara: