Indústria: fragilizada e indispensável 

Ao se medir o desenvolvimento de uma nação, sobretudo no mundo globalizado como vivemos hoje, é preponderante o peso relativo da indústria na formação do PIB (Produto Interno Bruto), medida do valor dos bens e serviços que o país produz num determinado período, na agropecuária, indústria e serviços. A indústria há de ser o vetor principal do desenvolvimento. No Brasil de hoje, um vetor fragilizado.

Por Luciano Siqueira*
 

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E não há reação à altura – tanto por parte do governo, que despreza o setor a ponto de não exibir qualquer proposta nesse sentido, como por parte dos próprios industriais.

O fato é que não há sinais de solução para a crise. Ao contrário.

Nos primeiros dois meses do ano, a atividade industrial recuou 0,2% em relação ao ano passado, o que reforça a tendência já histórica (desde os anos 80) de redução de participação da indústria de transformação na composição do Produto Interno Bruto (PIB).

No ano passado, essa participação foi de apenas 11,3% da atividade econômica do País, o nível mais baixo em mais de 70 anos!

E a previsão dos especialistas é de que em 2019 se verifique um percentual ainda mais reduzido do que o de 2018.

Aí se podem anotar dois fatores determinantes: a tendência geral, verificada em todo o sistema capitalista, de queda relativa da indústria e presença crescente do setor de serviços na formação do produto total; e as fragilidades peculiares da economia brasileira, envolta em sucessivas crises.

Demais, o empresariado do setor parece se encantar muito mais com a especulação financeira do que propriamente com a produção de bens.

Sob essa inspiração talvez esteja o fato – anotado pelo economista Diogo Santos em artigo recente na Carta Maior – de que “nem mesmo o ataque direto sofrido pela Indústria com o fim da Taxa de Juros de Longo Prazo praticada pelo BNDES que garantia condições um pouco mais favoráveis para o financiamento dos investimentos privados – no país que pratica, ainda hoje, taxas de juros reais entre as mais altas do mundo – recebeu a devida oposição por parte dos capitalistas. Tem sido tamanha a incapacidade dos capitalistas industriais de fazer frente ao setor financeiro…”.

Não há como se restabelecer um projeto nacional de desenvolvimento sem uma participação ativa da indústria – em bases renovadas a partir da adoção da inovação tecnológica no sistema produtivo e impulsionada por pesados investimentos públicos em infraestrutura.

Para tanto, a luta política se mostra de grande envergadura. E necessariamente ampla, a ponto de integrar a parte nacional desse segmento de nossa economia.

Publicado originalmente no Blog de Jamildo.

(*) Luciano Siqueira é vice-prefeito do Recife e dirigente estadual e nacional do PCdoB.