Ditadura nunca mais

 Por Izolda Cela*

O período da ditadura militar que se instalou no País a partir do golpe de 1964 até 1985 entra em cena de forma inusitada. O motivo? A ação deliberada de alguns na tentativa de mudar a narrativa dos acontecimentos. Ora, vejam só! Querem alterar o enredo de uma história que já aconteceu. Pior, querem arquitetar motivos para festejar uma história de tão triste e violenta memória. O fechamento do Congresso, censura à imprensa e às artes, fim das eleições, cassação de direitos, arbitrariedade dos atos de perseguição e assassinato de milhares de brasileiros. Também naquela cena nacional a horrenda prática da tortura, o mais abominável sofrimento impingido a um ser humano. Tudo isso patrocinado pela institucionalidade instalada no poder.

Não bastasse isso, a ineficiência da gestão pública, à época, evidenciada nos altíssimos índices de analfabetismo, no aprofundamento das desigualdades socioeconômicas e no meio fértil para prática de atos de corrupção, desvio de recursos e impunidade. Ainda há os que embarcam na fantasia de "anos dourados" de crescimento, ordem e progresso.

Com este imoral convite à comemoração, querem colocar o Brasil na contramão do que fazem as nações democratas com suas dolorosas memórias de regimes totalitários e infames, de perseguições étnicas e de atrocidades praticadas até em nome de Deus. Que fazem estes? Preservam as evidências dos fatos, solenizam a triste memória, contam a história para as novas gerações, promovem ações de reparação e perdão; e, principalmente, buscam consensos na sociedade para evitar o cometimento de crimes contra a humanidade no futuro de suas gerações. Um dos bons exemplos veio do Vaticano. O papa João Paulo II pediu perdão à humanidade pelas atrocidades cometidas pela santa(sic) Inquisição. Isso só engrandeceu a Igreja Católica e colocou algumas coisas nos seus devidos lugares.

Neste momento, cabe à sociedade mostrar que existe um intransponível obstáculo que se interpõe a esta insana visão sobre o golpe e os anos de chumbo da ditadura. A memória. Que ela seja suficientemente forte para não permitir que o céu luminoso desta Nação testemunhe atrocidades de regimes ditatoriais contra homens, mulheres e crianças. Que a liberdade democrática seja um valor a ser cultivado e defendido por todos que desejam melhores dias para o nosso Brasil.