Cresce ameaças de ataques à universidades e escolas brasileiras

A tensão nas escolas e universidades brasileiras sobre possível atentado vêm aumentando a cada dia, além das ameaças, o massacre de estudantes em Suzano-SP no mês passado elevou o temor de pais, estudantes, professores e funcionários das instituições de ensino no país. No aniversário do golpe militar de 1964, o primeiro de abril, a angústia ficou ainda mais evidente.

UFG

O tom de ameaça à Universidade Federal de Goiás (UFG) veio por meio de mensagem no endereço eletrônico institucional da Secretaria de Comunicação da instituição a 1 hora da manhã desta segunda-feira (1º/4). Na carta, o aviso foi de um ataque à tiros aos alunos da UFG.

A mensagem foi enviada com a utilização de um sistema de um domínio descrito como "guerrilha mail". No texto, o autor da ameaça afirma que o atentado seria uma resposta à interferência de estudantes em uma manifestação pró regime militar, realizada no domingo, 31. As ameaças são direcionadas aos prédios da Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia e Faculdade de Jornalismo.

“Estou contando as balas"…hoje 01/04,2019 entrarei no prédio da Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia (FCHF) da UFG, com dois revólveres calibre 38 que comprei na Deep Web, mas antes passarei na Faculdade de Jornalismo e exterminarei todos os esquerdistas, homossexuais, fornicadores, adúlteros e esquerdistas”, escreveu o autor da ameaça dizendo ser Emerson Eduardo Rodrigues de Setim.

O autor da ameaça “jurou lealdade ao Estado Islâmico”, “mentor intelectual desse massacre”, escreveu. Leia na imagem a seguir:

A reitoria da Universidade Federal de Goiás (UFG) se posicionou, por meio de nota e pediu reforço da segurança no Campus II. O reitor, professor Edward Madureira acionou a Polícia Federal e a Polícia Militar de Goiás para apurar autoria de ameaça de atentado à instituição.

“A UFG adotou essas medidas com o objetivo de proporcionar a manutenção de todas as atividades com segurança e tranquilidade, preservando a integridade física da comunidade universitária”, diz trecho da nota.

A Reitoria não cancelou as aulas na Universidade, mas alunos não compareceram nas salas de aula do FCHF. Alguns estudantes que chegavam para as aulas, organizaram uma manifestação silenciosa contra o crescente tom de ameaças nas universidades e escolas. Uma manifestação maior foi marcada no fim da tarde desta segunda-feira (1º) no Centro de Goiânia.

A nota da UFG “repudia quaisquer formas de violência, discriminação e exclusão social” e ressalta o compromisso da instituição com os princípios democráticos, a liberdade de expressão, a diversidade cultural e o pluralismo de ideias, valores basilares da Constituição Federal e da
Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Segue a íntegra: 

"Nota da Reitoria da Universidade Federal de Goiás divulgada agora pela ASCOM/UFG.

NOTA À COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA

A Universidade Federal de Goiás recebeu no dia de hoje, via e-mail, mensagem contendo ameaças de atentado na instituição. Em face disso, a Reitoria da UFG acionou, preventivamente, as Polícias Federal e Militar e, ainda, reforçou sua segurança interna. A UFG adotou essas medidas com o objetivo de proporcionar a manutenção de todas as atividades com segurança e tranquilidade, preservando a integridade física da comunidade universitária.
A Reitoria reitera o seu compromisso com os princípios democráticos, a liberdade de expressão, a diversidade cultural e o pluralismo de ideias, valores basilares da Constituição Federal e da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e repudia quaisquer formas de violência, discriminação e exclusão social. Reitoria da UFG"

Outras ameaças

Apontadas pejorativamente pelo governo de ultradireita de Jair Bolsonaro como um “antro esquerdista”, apenas no mês de março deste ano, ao menos três universidades federais sofreram ameaças de crime de ódio.

No dia 20 de março deste ano, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, a Polícia Federal foi acionada para apurar ameaças. "Uma postagem na Internet causou tensão sobre um suposto ataque direcionado a mulheres e negros no campus Vale, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A instituição manteve as atividades, mas reforçou a segurança interna. A UFMG também acionou as autoridades policiais para investigar uma ameaça por e-mail de ataque que teria sido feita dias antes por uma pessoa reprovada no sistema de cotas", assinala reportagem do El País.

No dia 21, a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) confirmou a veracidade de uma carta encontrada em um dos banheiros do campus Uvaranas. Na carta, o agressor afirmou que cometeria “a maior execução de alunos já vista em todo o mundo”. Preocupada com as crescentes ameaças, a Universidade de Brasília (UnB) chegou a enviar um comunicado aos alunos para que informem a reitoria sobre possíveis indícios de ataques.

Em todas esses casos, as reitorias informaram que órgãos de segurança externos foram acionados para investigação dos casos.

Medo em ambiente universitário

A violência em ambiente universitário tem alertado a comunidade internacional. Uma reportagem da Agência Pública aponta que há oito meses, a organização Scholars at Risk (Acadêmicos em Risco, em português) tem sido procurada por professores brasileiros que se sentem inseguros no país. A organização é uma rede de instituições de ensino superior que promove a liberdade acadêmica. Ela ajuda pesquisadores e professores ameaçados de morte a sair de seus países por um tempo. Até o ano passado, apenas um brasileiro tinha contatado a organização. Agora, já são 18.

Escolas



Casos como este de ameaças vêm se multiplicando também em escolas, em vários estados brasileiros desde o massacre em Suzano-SP no dia 13 de março, onde 10 pessoas, a maioria adolescentes, foram assassinadas por outros dois atiradores menores de idade, “adoradores” de armas e fãs do presidente Bolsonaro.

Ouvida pelo El País, a especialista em linguagem e adolescentes, a psicóloga Amanda Mont'Alvão diz que o “encorajamento ao discurso de ódio promovido por muitos de nossos representantes é inadmissível, uma vez que valida intolerâncias cotidianas, fragmenta a coletividade e fomenta confrontos onde deveria haver mediação", afirma.

Há um rompimento de um contrato civilizatório neste momento na sociedade, observa a pesquisadora Telma Vinha. Segundo ela, houve um período que a gente “não podia ter um discurso de ódio nem xingar, mas de repente você autoriza isso, é algo que passa a ser permitido".