Mônica Beníco: Quem mandou matar Marielle?

"Não aceitaremos que a história seja contada por eles, por aqueles que representam os grupos que Marielle em vida enfrentou".

Monica Benício - Observatório da Intervenção

14 de março de 2018, às 21h10min da noite, a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram vítimas de uma bárbara execução no Centro do Rio de Janeiro. Provavelmente, isso você já sabe. O que o mundo ainda quer saber, e o movimento Justiça Por Marielle busca nestes 378 dias, são as respostas sobre quem mandou matá-la e porquê.

Essa revelação é ainda mais importante que a prisão dos executores. O Estado brasileiro tem o dever de identificar os mandantes e explicar a toda sociedade quem planejou e quais os reais objetivos de um crime que, evidentemente, foi político.

Sobre uma das linhas de investigação que sustenta se tratar de um crime de ódio, porque os assassinos eram sujeitos odiosos ou tinham "obsessão pela esquerda", é preciso dizer que as motivações para a execução de Marielle vão muito além. Nós conhecemos bem o que são os crimes de ódio. Nos últimos dias, assistimos com muita dor massacres provocados por racismo, xenofobia, machismo – ódio. Mas são tragédias distintas.

Está nítido, na execução profissional de 14 de março que vitimou a minha companheira, que existe muito dinheiro, poder, muitas armas, e também muito ódio organizado envolvido.

Um crime brutal, com participação do Estado, milícia e grupos políticos não se explica por preconceito ou discriminação apenas.

Se, por um lado percebemos que as lutas de Marielle, seu corpo, sua história e quem ela era, ameaçavam esses grupos, por outro, aceitar como resposta válida a narrativa de que ela foi executada por motivo torpe é mais uma violência contra ela.

Nós, como um casal lésbico, por exemplo, fomos vítimas de discriminação, invisibilidade. Centenas de LGBT são assassinadas por crimes de ódio no Brasil todos os anos, e isso, o Estado precisa reconhecer. Marielle, uma mulher preta, favelada e lésbica no poder, sim, despertava muito ódio. Mas estou certa de que não foi só isso que a matou.

Não aceitaremos que a história seja contada por eles, por aqueles que representam os grupos que Marielle em vida enfrentou. E agora, através de sua memória, lutamos para que esses senhores tenham seus projetos derrotados. O slogan da campanha de Marielle era: "Pra Fazer Valer!" E nós, vamos fazer valer sua trajetória de luta por um País mais justo e uma vida melhor para todos e todas