As eleições de 1930 marcam o início do PCdoB no Espírito Santo

 O Partido Comunista do Brasil foi fundado em 25 de março de 1922, em Niterói, por um pequeno grupo de trabalhadores e intelectuais. Sua implantação em todo país demandou algum tempo. O Brasil era rural, com alguns centros urbanos onde o proletariado pudesse vicejar. 

PCdoB

 No ES, sua primeira ação política que se tem registro formal se deu na campanha presidencial de 1930, quando o candidato apresentado pelos comunistas, Minervino de Oliveira, obteve em todo estado 22 votos, contra mais de 23 mil do candidato situacionista, Júlio Prestes e 3 mil conferidos a Getúlio Vargas pela Aliança Nacional Libertadora (ANL). Estava no fim a República Velha das oligarquias.

Contudo, seguiram-se registros da participação organizada do partido nos movimentos sindicais dos ferroviários de Cachoeiro de Itapemirim e greves operárias ao longo da década de 1930. A força do partido entre os trabalhadores já era considerável no início da década seguinte, destacando-se no movimento popular que forçou a entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial em 1942. Com a redemocratização no pós-guerra, o partido passou a editar o importante jornal Folha Capixaba, principal meio de agitação e propaganda do partido, além de instrumento organizador da ação revolucionária.

Nessa época, o Secretário Político Nacional do partido era Luiz Carlos Prestes e o Secretário de Organização era João Amazonas. O jornal, dirigido por Hermógenes Lima Fonseca, Vespasiano Meyreles, Agostine Santiago, Victor Costa, Aldemar de Oliveira Neves, Nilson Lino Rodrigues e outros dirigentes e membros do partido, circularia até às vésperas do golpe militar de 1964.

No curto período da legalidade 46/47 o partido elegeu um deputado estadual, Benjamin Carvalho Campos, em 1946, logo cassado junto com o registro do partido pela justiça eleitoral. Filiado em outra legenda, o comunista Hermógenes da Fonseca foi eleito vereador em Vitória com a maior votação já obtida, somando sozinho cerca de 10% da capital. A esta altura o partido já era hegemônico no movimento sindical e estudantil, com raízes bem estabelecidas também no meio camponês. Foi protagonista no conflito rural que resultou no massacre de Cotaxé, no interior de Ecoporanga, Zona do Contestado, disputada por mineiros e capixabas (1952-1953).

Já dividido entre PCB e PCdoB, depois de 1964 os comunistas enfrentaram dura perseguição. Quase dez anos depois a repressão fez seu maior ataque ao partido em 1973, particularmente atingindo o movimento estudantil. Caía a base estudantil na medicina da Ufes e outras, resultando em inúmeras prisões. Na clandestinidade, pelo menos quatro capixabas foram destacados para compor o quadro guerrilheiro do Araguaia.

De 1974 a 1977 o PCdoB operou na mais rigorosa clandestinidade no Espírito Santo, sobretudo depois da conhecida Chacina da Lapa, em São Paulo, em 1976. Os trabalhos de reorganização só seriam retomados pela ação do jornalista Luzimar Nogueira Dias, nos últimos anos da década de 1970. Atuando na imprensa alternativa e junto a estudantes da Ufes, Luzimar esteve na linha de frente da luta pela anistia, redemocratização e fortalecimento da frente política ampla de oposição do regime militar, o velho MDB.

Depois da anistia em 1979 o PCdoB capixaba alcançou à semiclandestinidade e dessa forma pôde receber a assistência e acompanhamento regular da direção nacional. O jornal Tribuna Operária, editado em SP, cumpriu importante papel para reagrupar e orientar os comunistas.  Reaproximou o partido das massas e publicizou a campanha pela volta à legalidade do PCdoB. Já o órgão interno de comunicação, A Classe Operária, fundado em 1925, sempre circulou entre os comunistas capixabas, reproduzido em mimeografo a partir de textos em carbono vindos secretamente de SP ou RJ.

Já nos estertores do regime militar o PCdoB atuava francamente na política institucional, formando a Tendência Popular do PMDB, modo criativo para contornar a ilegalidade imposta exclusivamente aos comunistas. Participava de disputas eleitorais com seus candidatos filiados a outra legenda. Foi somente em 1985 o seu retorno à legalidade. Já no ano seguinte elegeria, pela sigla dos comunistas, um deputado estadual no ES, o bancário João Martins. Nos pleitos seguintes elegeu vereadores e reforçou sua atuação nas áreas sindical, estudantil, comunitária e no movimento social de maneira geral.

Em 2012 o PCdoB elegeu o primeiro prefeito comunista capixaba, Neto Barros, no município de Baixo Guandu, reeleito em 2016.

Hoje é uma força política respeitável, pelo que representou e pelo que significa como uma organização dedicada às lutas do presente e do futuro. São conhecidas as posições do PCdoB em defesa do Brasil e do Espírito Santo, pela soberania e desenvolvimento econômico e social. Seus dirigentes estaduais possuem as melhores reputações e seu prestígio entre os trabalhadores e juventude é crescente. Se os 97 anos de existência do partido se confundem com a história do próprio Brasil, a trajetória dos comunistas capixabas guarda a mesma relação com o Espírito Santo.