Um ano sem Mariele: nosso inimigos estão no poder

A execução de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro, mulher, negra, mãe e figura política comprometida com as causas do povo, completou um ano. A de seu motorista, Anderson Gomes, também. Desde então, não passou-se um dia sem questionar quem mandou matar Marielle. Até agora, não temos respostas, apesar das muitas evidências que parecem conectar o crime, as milícias e os suspeitos presos neste momento – os policiais Ronnie Lessa e Élcio Vieira – à família Bolsonaro.

Por Bianca Borges*

Marielle Presente - Foto: Paula Cosenza/Cuca da UNE

A milícia, à qual Marielle se comprometeu a combater e assim fez em seu mandato, é indissociável dessa tragédia programada. O presidente Jair Bolsonaro, "coincidentemente", é morador da mesma rua dentro do mesmo condomínio que um dos atiradores recentemente preso pela polícia também mora. Vale lembrar que na tribuna da Câmara dos Deputados o mesmo já afirmou que, enquanto a pena de morte for inexistente no Brasil, "o extermínio será bem-vindo" e que os grupos que o praticam teriam seu apoio. Quando a notícia da morte de Marielle e Anderson irrompeu nos noticiários, um ano atrás, o presidente eleito foi o único pré-candidato à República a não manifestar suas condolências, indiferença sobre o caso que sustenta publicamente até hoje.

Igualmente público é o apoio do filho do presidente, Flávio Bolsonaro, a tais grupos. Em 2007, o então deputado estadual defendeu na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ) que as milícias fossem reconhecidas legalmente como segurança das comunidades. Em 2015, foi o único deputado a votar contra a abertura de uma CPI para apurar crimes cometidos por policiais. Vale lembrar que durante a campanha presidencial de 2018, dois candidatos do PSL rasgaram ao meio uma placa de rua com o nome de Marielle, colocada no Centro do Rio em homenagem à vereadora morta. Um deles, Rodrigo Amorim, se elegeu deputado e emoldurou a placa rachada em seu gabinete. Flávio Bolsonaro, na ocasião, saiu prontamente em defesa da dupla, afirmando que eles “nada mais fizeram do que restaurar a ordem”. Como se não fosse o bastante, foi o único parlamentar a votar contra a concessão da Medalha Tiradentes à vereadora.

Ainda restam muitas perguntas sem respostas sobre o assassinato da vereadora. Mas está claro que a execução de Marielle se deu por sua atuação política, que contrariava interesses obscuros: durante todo o seu mandato denunciou a atuação das milícias sobre comunidades carentes, assim como a denúncia da violência policial e dos grupos paramilitares. O assassinato de Marielle foi uma tentativa de silenciá-la e interromper sua luta pelo fim da exploração dos cidadãos vulneráveis de seus Estado. Mas Marielle não foi interrompida. Os atos de rua que reuniram milhões em todo o Brasil clamando por justiça são prova disso. Somos sementes e em nome de Marielle e de tantos outros seguiremos lutando. Marielle vive!