A estratégica da mentira como arma dos inimigos da Petrobras

Desde sua fundação em 1953, na descoberta do pré-sal em 2006 e na atual escalada entreguista, as falácias contra a empresa são recorrentes.

Carlos Drummond – CartaCapital

Petrobras

Não é fácil convencer o brasileiro a abrir mão da Petrobras e outras estatais. É o que mostram inclusive pesquisas recentes com mais de 70% dos entrevistados favoráveis a essas empresas, ainda mais quando os argumentos utilizados são honestos e os fatos apresentados, verdadeiros, o que explica o uso recorrente da mentira por parte dos inimigos da maior e melhor empresa nacional, centro da mais importante cadeia produtiva do País, responsável por nada menos que 10% do PIB e 15% do investimento total.

Defender a Petrobras era prioridade número um do seu criador, o ex-presidente Getúlio Vargas e uma das razões do seu suicídio, explicitada na famosa carta-testamento. Caso o criador do Brasil moderno, concretizado também em instituições como a Consolidação das Leis Trabalhistas, a carteira do trabalho, o BNDES, o IBGE, abrisse mão da petroleira nacional, a história seria outra, é possível concluir a partir de texto do jornalista José Augusto Ribeiro publicado no site Conversa Afiada.

Em 1954, ano do seu suicídio, Vargas sofria pressões violentas acusado de favorecer a corrupção e o avanço do comunismo, neste caso por seu projeto econômico desenvolvimentista, com avanço salarial dos trabalhadores e sua proteção pela legislação trabalhista. Destacava-se nos ataques diuturnos ao presidente veiculados pelos Diários e Emissoras Associados, monopólio de mídia comandado por Assis Chateaubriand, o jornalista Carlos Lacerda, que pregava a renúncia ou a deposição do chefe do Executivo.

Certo dia, conta Ribeiro, o subchefe do Gabinete Militar da presidência, general Mozart Dornelles, procurou Chateaubriand, de quem era amigo desde a Revolução de 1930, para saber o motivo do ódio intenso contra Vargas na campanha de Lacerda nos veículos de comunicação do empresário. Resposta de Chateaubriand:

“– Mozart, eu adoro o Presidente, sou o maior admirador dele. É só ele desistir da Petrobras que eu tiro o Lacerda da televisão e entrego para quem ele quiser, para fazer a defesa dele e do governo.”

Mentiam portanto Lacerda e a rede de Chateaubriand ao apresentar como principais causas dos ataques a Vargas o favorecimento à corrupção e ao comunismo, pois o verdadeiro motivo da campanha contra o governo era sua defesa da autonomia energética do País assegurada pela Petrobras, o que permitiria desenvolver uma indústria nacional e assim superar a dependência de combustíveis e de manufaturados importados, situação subalterna que era e continua a ser do mais alto interesse do capital internacional e dos seus eternos defensores no Brasil.

A morte de Vargas e a imensa reação popular que se seguiu postergaram o golpe militar por dez anos e a Petrobras ampliou-se respaldada pela ala nacionalista das forças armadas até que na década de 1990 o governo Fernando Henrique Cardoso, em uma história conhecida e lamentável, iniciou a desconstituição sistemática da petroleira brasileira. A eleição de Lula, seguida de grandes investimentos na capacidade de prospecção, exploração, pesquisa, desenvolvimento e tecnologia própria da companhia possibilitou a descoberta, em 2006, da riqueza das reservas de petróleo e gás da camada suboceânica do pré-sal.

Coube então ao monopólio da Rede Globo, sucessor do monopólio dos Diários e Emissoras Associados, perpetrar mais uma grande mentira, em perfeita sintonia com os interesses das concorrentes estrangeiras da Petrobras, no título do editorial do jornal O Globo publicado dia 20 de dezembro de 2015:

“- O pré-sal pode ser patrimônio inútil.”

Seguia-se este subtítulo:

“- Delírio estatista do PT atrasa exploração das reservas, corrupção desestabiliza Petrobras e queda do preço do petróleo deve inviabilizar a produção em algumas áreas.”

Mentiu o editorial de O Globo no ataque à mais importante descoberta petrolífera dos últimos tempos a partir de tecnologia inédita brasileira para exploração em águas profundas e ultraprofundas, capaz de proporcionar autonomia petrolífera ao País com sua imensa reserva de óleo e gás, suficiente para um grande impulso desenvolvimentista a partir da cadeia produtiva que inclui refinarias próprias e ampla capacidade da indústria nacional na construção de plataformas e navios, entre outros equipamentos.

A reviravolta do golpe de 2016 foi acompanhada de enorme pressão sobre a Petrobras para venda de refinarias, redes de dutos, campos de petróleo, indústria do setor petroquímico e do próprio pré-sal, este agora com nada menos de 75% já transferidos para petrolíferas estrangeiras. O governo Bolsonaro e os militares entreguistas aprofundam o desmonte da grande obra de Vargas e novos coadjuvantes se destacam nessa desconstituição, a exemplo do Instituto Brasileiro do Petróleo, notório defensor dos interesses estrangeiros no setor.

A crer na notícia publicada pela Gazeta Online em 17 de fevereiro de 2019, a palestra do secretário-geral do IBP, Milton Costa Filho, proferida na Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo, aumentou o rol de mentiras contra a Petrobras. O presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras, Felipe Coutinho, contestou ponto a ponto no site da entidade os principais trechos da fala do representante do IBP veiculada pela Gazeta Online, em texto que reproduzimos abaixo:

IBP: “Os investimentos potenciais na cadeia do petróleo no Brasil em dez anos devem atingir 2,5 trilhões de reais”.

Aepet: Os investimentos realizados pela Petrobras na cadeia do petróleo no Brasil em dez anos (2006-2015) atingiram 1,5 trilhão de reais (412 bilhões de dólares).

IBP: “Em 2016, carvão, petróleo e gás representavam 80% da matriz energética no mundo. As previsões apontam para 76% em 2040, 50% em 2050 e 22% em 2070. À medida que o petróleo é substituído, a demanda diminui e, naturalmente, o preço cai”.

Aepet: A Administração de Informações sobre Energia dos EUA projeta que o consumo mundial de energia crescerá 28% entre 2015 e 2040. Até 2040, prevêem aumento do consumo mundial de energia de todas as fontes de combustível, exceto a demanda por carvão, que deve permanecer essencialmente estável. Portanto, segundo estes especialistas a demanda por petróleo e gás natural não diminui. Quem desqualifica quer comprar ou representa quem quer.

IBP: “Hoje, os três lugares com maior produtividade na produção de petróleo são o Oriente Médio, os EUA (com o shale oil) e o nosso pré-sal. O Brasil perdeu muito tempo e promoveu a maior destruição de valor da sua história ao paralisar por 5 anos as rodadas de petróleo, o que detonou a cadeia de petróleo. Fizeram desnecessária mudança de regime de concessão para partilha que só provocou a criação de mais uma estatal”.

Aepet: O dinamismo do setor foi mantido até 2015, com investimentos de 412 bilhões de dólares (2006-2015), em valores corrigidos para 2018, o equivalente a 1,5 trilhão de reais em cotação cambial de 3,72 reais por dólar. O cenário desolador descrito não foi resultado da ausência de leilões ou da alteração do regime de exploração do petróleo. Foi consequência da redução da taxa de investimentos da Petrobras e do impacto da operação Lava Jato. Em 2016 e 2017, a Petrobras investiu 32 bilhões de dólares, enquanto, por exemplo, no biênio 2010-2011 investiu 106 bilhões.

IBP: “Enquanto o Brasil se perdia em delírios ideológicos que ressuscitavam slogans como ‘O petróleo é nosso’, a Noruega atingia 1 trilhão de dólares no seu fundo soberano, montado inteligentemente com a exploração tempestiva do seu petróleo, para garantir a aposentadoria dos seus cidadãos e a maior renda per capita no mundo”.

Aepet: Em 10 anos, a produção do pré-sal alcançou 1,5 milhão de barris diários. A Noruega levou 50 anos para alcançar o mesmo patamar. Hoje o pré-sal já representa mais de 55% da produção brasileira. Quem delira ideologicamente? Certamente aqueles que disseram que o pré-sal só existia na cabeça dos políticos, e que seria inviável técnica e economicamente de ser desenvolvido pela Petrobras e que, por fim, sem mais argumentos, alegam que é um mico sem valor e precisa ser entregue para multinacionais estrangeiras a toque de caixa.

IBP: “Se o Brasil crescer com taxas razoáveis próximas a 3% nos próximos anos, teremos um apagão de mão de obra no setor de petróleo com a demanda de 800 mil trabalhadores com alta qualificação. Os empregos serão gerados na cadeia de fornecedores. Temos de correr ou iremos para o túmulo junto com o Petróleo é nosso, riqueza sem valor para sempre enterrada”.

Aepet: Nenhum país se desenvolveu exportando petróleo cru por multinacionais estrangeiras. Existe correlação entre o consumo de energia, crescimento econômico e desenvolvimento humano. Precisamos agregar valor ao petróleo, consumir combustíveis e petroquímicos internamente, aumentar a produtividade do nosso trabalho e usar o petróleo, que é um bem público do Brasil para seu desenvolvimento, em favor da maioria dos brasileiros.