Rombo das contas públicas não está na Previdência

Em vez de insistir em mexer na Previdência, empresariado deveria lutar contra mecanismos de securitização da dívida pública que só beneficiam os bancos, diz a coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lúcia Fatorelli.

Maria lúcia Fattorelli

"O rombo das contas públicas não está nem nunca esteve na Previdência Social. O rombo das contas públicas está é no sistema da dívida pública." Segundo a economista Maria Lúcia Fattorelli, o principal problema da economia brasileira está em mecanismos criados pelo sistema financeiro que aumenta lucros e tira benefícios da dívida pública e, por isso, a alimenta.

Com altas taxas de juros estabelecidas pelo Banco Central (BC), os bancos não conseguem emprestar todo o dinheiro que têm disponível. O BC, então, fica com esses recursos que "sobram", entregando aos bancos títulos da dívida pública. Esse mecanismo retira recursos da economia real e faz com que as taxas de juros cobradas pelos bancos exploda acima de 200% ao ano, garantindo o lucro do sistema financeiro.

Ela diz que o empresariado, em vez de insistir na reforma da Previdência, devia estar lutando para acabar com esse mecanismo, que remunera a sobra de caixa dos bancos e já custa ao país cerca de R$ 1,2 trilhão. Os banqueiros são os únicos que ganham com essa política, segundo Fattorelli.

"O país inteiro perde. A classe trabalhadora perde, a economia real, os empresários, a indústria, o comércio, os serviços, todos perdem. E o país como um todo perde, porque estamos tendo que entregar inclusive as nossas empresas públicas, em privatizações, para pagar essa dívida gerada por esses mecanismos financeiros", diz a economista ao programa Mundo Político, da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (assista abaixo).

Fim da Previdência

O projeto de reforma da Previdência apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) seguirá atendendo aos interesses do mercado financeiro. Segundo Maria Lúcia, com o sistema de capitalização que o ministro da Economia, Paulo Guedes, pretende implementar, associado à chamada carteira de trabalho "verde e amarela", o INSS quebra.

Ela diz que esse sistema, que prevê que o trabalhador "contribua" para uma conta individual, numa espécie de poupança particular, sequer pode ser chamado de Previdência, já que não garante ao trabalhador a segurança pretendida durante a velhice. "Qual é a lógica de colocarmos a nossa segurança em aplicações de risco?", questiona a economista.

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