China, Rússia e Turquia esnobam Itamaraty e mantêm apoio à Venezuela 

Na primeira tentativa do governo Bolsonaro de jogar papel efetivo no cenário internacional, o Ministério das Relações Exteriores fracassou. A diplomacia brasileira tentou fazer contatos nos últimos dias para sondar a disposição de China, Rússia e Turquia de romper com o regime de Nicolás Maduro e reconhecer o golpista Juan Guaidó como presidente encarregado da Venezuela. Esnobado – o que era previsível –, o Itamaraty desistiu da pretensiosa tentativa de mudar a postura dos três países.

Ernesto Araujo

A última conversa “franca” sobre a situação venezuelana, segundo um funcionário do Itamaraty que lida diretamente com o assunto, foi com Yang Wanming, novo embaixador da China em Brasília. Na semana passada, o chanceler Ernesto Araújo aproveitou uma coincidência de estadas em Washington para reunir-se com o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu. Autoridades russas também foram procuradas.

Nos poucos e infrutíferos contatos estabelecidos, houve um ponto de convergência em todas as reuniões. Pequim, Moscou e Ancara argumentam que não interferem em assuntos internos de outros países, que a crise na Venezuela deve ser resolvida pelos venezuelanos, que não querem envolvimento direto.

“Eles vão continuar dizendo isso até a morte, mas sabemos que não se trata disso”, disse reservadamente um diplomata graduado, evitando reconhecer o rebaixamento do Itamaraty sob Bolsonaro e responsabilizando China, Rússia e Turquia pelo fato de o Brasil ter jogado a toalha. “Os três países têm movimentos dissidentes, internamente ou nas redondezas, e acham que ceder na Venezuela é abrir um flanco indesejado”, exagera a fonte, sem reconhecer o primado da soberania das nações e dos povos.

No início do mês, o exótico chanceler brasileiro fez um apelo para que China e Rússia – dois dos principais apoiadores internacionais do regime de Maduro – conhecessem a “realidade do terreno” e mudassem de posição. Acredite: o governo recém-empossado quis dar lições ao Partido Comunista Chinês e ao líder russo Vladimir Putin.

Nas conversas, os diplomatas brasileiros apelaram à ladainha de que a permanência de Maduro cria instabilidade em toda a região, embora a Venezuela não tenha praticado gestos de hostilidades com nenhum país do continente. Sob a inspiração do ideólogo e conspirador anticomunista Olavo de Carvalho, o Itamaraty falou em fluxos migratórios, narcotráfico, contrabando, risco de guerra civil.

De nada adiantou. No final, China, Rússia e Turquia fizeram bem em confiar mais em sua diplomacia do que nos funcionários pró-Estados Unidos da chancelaria do Brasil.

Com informações do Valor Econômico