A situação de Minas exige um estadista, não um gerente

"É evidente as responsabilidades da empresa nos crimes ambientais de Mariana e Brumadinho. Mas com a cabeça de quem defende a iniciativa privada acima de tudo, Zema se coloca mais do lado da empresa do que do Estado e do seu povo".

Por Wadson Ribeiro*

Brumadinho - Foto: Ricardo Stuckert

Nesta quarta-feira (20), equipes da Vale promoveram a evacuação de moradores de uma área em Nova Lima, onde a empresa mantém uma barragem. Dias antes, foi a vez de cerca de 200 moradores da comunidade dos Macacos, também em Nova Lima, serem obrigados a deixarem suas casas. O mesmo drama foi vivido por moradores de Itatiaiuçu e Barão de Cocais. Mesmo contrariados, eles cumprem a desocupação imediatamente, pois não querem ter o mesmo destino de pelo menos 166 mortos e140 desaparecidos, vitimados em Brumadinho e que, como eles, viviam ou trabalhavam nas margens de barragens.

A mineração que dá nome ao Estado, e sempre foi seu vetor econômico, revelou-se também uma ameaça. Além da questão humana, a mais importante, as repercussões econômicas da atual realidade da mineração é de uma crise que se aprofunda. Milhares de trabalhadores ficarão desempregados com a redução da atividade minerária já anunciada. A Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) realizou um estudo que mostra que a diminuição da produção da Vale pode retirar R$ 23,3 bilhões da economia mineira, apenas em receita industrial. O montante representa 4,2% do PIB de Minas em 2018. Justamente no momento em que o Estado já se encontrava em situação falimentar.

Para piorar o quadro, as declarações do principal mandatário trazem mais preocupações do que alento. Sobre a desocupação da região de Macacos, Romeu Zema diz que a considerou “além do necessário”. Quando ele fala do crime de Brumadinho, sempre trata como “incidente” e defende a Vale, alegando que “a companhia está fazendo todo o possível para minimizar os danos do ocorrido”.

A grave situação que Minas Gerais enfrenta exige grande capacidade e espírito público de quem tem a responsabilidade de governar. E as atitudes de Zema aumentam a sensação de que ele não está preparado pra enfrentar o desafio. Ele foi eleito como o defensor da antipolítica. Navegou na alta rejeição dos principais concorrentes e fez uma campanha quase monotemática, em que pregou a ineficiência do Estado e a competência da iniciativa privada.

Sua visão antiestado foi expressa claramente durante a campanha, inclusive no que diz respeito ao setor minerário, onde Zema prometeu “trabalhar para a simplificação dos processos e da burocracia que complicam a vida das empresas”. As declarações do governador em relação à Vale demonstram um claro conflito de interesse.

É evidente as responsabilidades da empresa nos crimes ambientais de Mariana e Brumadinho. Mas com a cabeça de quem defende a iniciativa privada acima de tudo, Zema se coloca mais do lado da empresa do que do Estado e do seu povo. Com isso, abandona os que mais precisam de proteção neste momento, como os familiares da vítimas dos dois crimes. Há poucos dias, criticou aqueles que não aceitavam a forma de indenização que a empresa se dispõe a pagar.

O ocorrido em Mariana e Brumadinho mostram que a realidade é bem diferente do que prega Romeu Zema. Nestes casos, a iniciativa privada agiu de acordo com seu único interesse, o lucro. Para alcançá-lo, sacrificou a vida de centenas de pessoas, destruiu rios, a fauna, tudo em seu redor. Do outro lado, o que se viu foi o Estado agindo diante do desastre, através dos bem treinados bombeiros, Polícia Militar, autoridades do poder público, e universidades, com seus estudos dos impactos e recuperação ambiental.

Empresário de sucesso, Romeu Zema ofereceu-se na campanha eleitoral mais como gerente do que como governador. O problema é que a situação em que Minas se encontra exige mais que um governador, exige um estadista.