Tragédia no Flamengo: Luto e indignação

A dolorosa tragédia que atingiu crianças, jovens e funcionários das categorias de base do Flamengo está unindo todas as torcidas em uma imensa corrente de solidariedade.

Vasco solidariedade

A reação unânime de consternação também ocorreu quando do angustiante desastre aéreo que vitimou atletas da Chapecoense em 2016, com a diferença de que a Chape não tem um histórico de grandes rivalidades nacionais, ao contrário do Flamengo.

Portanto, não deixa de ser digno de nota que 99,99% dos torcedores rivais do Clube da Gávea tenham compreendido imediatamente toda a dimensão do drama e adotado uma postura de irrestrito apoio, ao qual se somaram todos os clubes e a Federação de Futebol do Rio de Janeiro, que muito acertadamente cancelaram a rodada do final de semana do campeonato carioca, quando seriam disputadas partidas válidas pela semifinal da Taça Guanabara.

Perguntará o leitor: “Mas por que ressaltar isso, já que uma reação diferente seria inadmissível?”. Responderei que em um país que elegeu um presidente da república defensor da tortura, muito coisa de inadmissível vem acontecendo ultimamente. Daí que singelos e obrigatórios gestos de humanidade acabam tendo hoje em dia um valor excepcional, como a mostrar que ainda existe esperança.

Contudo, o sentimento de dor e compaixão não nos exime de exigir uma explicação verossímil sobre o que ocasionou a tragédia. Ao contrário, a solidariedade e o apoio irrestrito às vítimas, aos seus familiares e amigos, obriga a todos nós, e em primeiro lugar a torcida do Flamengo, a cobrar uma punição severa para os eventuais responsáveis.

Nos alarma ler a nota oficial de pesar do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, onde se fica sabendo que o TRT, em 2015 (!), alertou que “as precárias condições oferecidas pelo Clube de Regatas do Flamengo a seus atletas são inferiores até mesmo àquelas ofertadas aos adolescentes que cumprem medida socioeducativa de semiliberdade em unidades do Departamento Geral de Ações Educativas (Degase), o que revela o absurdo da situação”.

Como ficar sabendo, sem revolta, que o Flamengo, que recebe as maiores verbas publicitárias do país, que paga mais de 1 milhão de reais por mês para um único jogador, não oferece às suas jovens promessas, em sua imensa maioria crianças pobres que lutam por uma vida melhor, condições mínimas de dignidade e segurança? 

Tem mais, o portal UOL está divulgando a informação de que “a área em que o Flamengo construiu o alojamento de suas categorias de base que pegou fogo na manhã desta sexta-feira (8) tinha permissão da prefeitura para funcionar apenas como estacionamento”. *

Que a dor das famílias enlutadas e a memória dos jovens talentosos que perderam a vida e os seus sonhos de futuro comova o aparelho policial e judiciário, em geral tão parcial e seletivo, a apurar de forma rigorosa, sem prejulgamentos, mas também sem indulgências, as responsabilidades sobre este dramático acontecimento.


* Às 17h46m desta sexta-feira (8) a página UOL fez a seguinte correção: “Ao contrário do que informou a home-page da UOL na tarde desta sexta-feira (8), a área do Centro de Treinamento do Flamengo que foi atingida por um incêndio não foi construída após o licenciamento da prefeitura do Rio de Janeiro de abril de 2018. O projeto do Flamengo que prevê a utilização da área como estacionamento só passa a valer em março deste ano”. No entanto, o próprio UOL informa que a prefeitura do Rio de Janeiro reitera, em nota, que “a área do alojamento atingida pelo incêndio não consta do último projeto aprovado pela área de licenciamento, em 05/04/18, como edificada”. Diz ainda a nota: “A prefeitura vai determinar a abertura de um processo de investigação para apurar as responsabilidades”.