Moro buscou um bandido na prateleira para usar contra Jean Wyllys

O jornalista Fernando Brito revela que o ministro da Justiça, Sérgio Moro, pressionado a dar uma resposta para o rumoroso exílio do deputado Jean Wyllys, pegou um caso na prateleira para tentar "provar" que o governo tomou providências e insinuar que Jean estaria mentindo quando diz que não se sente protegido. Mas ao que tudo indica, o preso exibido por Moro não tem relação com as ameaças ao deputado.  "A mistificação só ajuda a dar razão ao que diz Jean Wyllys", conclui Brito.

Jean Wyllys - Foto: Divulgação

Confira, abaixo, o texto de Fernando Brito publicado no blog Tijolaço:

Moro pega caso de 2011/12 para dizer que pune quem ameaça Wyllys

Em nota oficial emitida neste sábado, o Ministério da Justiça, chefiado por Sérgio Moro lamenta a decisão do deputado Jean Wyllys de renunciar ao mandato e deixar o país, mas diz que “não há omissão das autoridades constituídas” na identificação e punição aos que ameaçam o psolista.

Dá como exemplo solitário a prisão de Marcelo Valle Siqueira Mello, membro do grupo autointitulado ‘Homens Sanctos’, que foi preso em 2018, segundo a nota, por fazer ameaças contra Wyllys .

Não é verdade.

Marcelo foi preso em maio de 2018, em razão de um inquérito policial iniciado em 2012, muito antes de Wyllys denunciar ameaças.

Inquérito que, aliás, começara um ano antes, como se pode ler no mandado de busca, apreensão e prisão do cidadão, assinado em abril deste ano pelo Juiz Marcos Josegrei, da 14a. Vara Criminal.

O documento, em PDF, está aqui.

Aliás, o sujeito já fora condenado na Operação Intolerância (ação penal nº 5021040-33.2012.4.04.7000) pela prática de crimes via internet, através de postagens destinadas a disseminar o ódio, o racismo e a discriminação, “fatos ocorridos no período de outubro a dezembro de 2011”.

Na peça, em 36 páginas, o nome de Jean Wyllys não é citado uma única vez.

O Ministério da Justiça “reciclou” um criminoso de ódio para “demonstrar” que está agindo contra os que ameaçam o deputado, usando um caso antigo e, aparentemente, não relacionado com as ameaças que o deputado sofre.

Aliás, não deve saber que os áudios em que o cidadão recomenda que os homens sejam “canalhas” para serem bem sucedidos com mulheres – que seriam satânicas, aliás – continuam podendo ser acessados na internet e que o canal dos tais “Homens Sanctos” continua ativo no Youtube, veiculando propaganda nazista.

Até porque Marcelo, preso desde maio, não poderia ser o autor de tentativas de intimidação recente.

O Ministério de Moro deveria caprichar mais nas respostas, limitando-se a informar a verdade e não pegando um condenado “na prateleira” para tentar apresentar serviço.

A mistificação só ajuda a dar razão ao que diz Jean Wyllys.