Parentes do Escritório do Crime eram funcionários de Flávio Bolsonaro

Raimunda Veras Magalhães, mãe do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, neste momento foragido da Operação "Os Intocáveis" e suspeito de envolvimento com o assassinato da ex-vereadora do Rio Marielle Franco (Psol), foi funcionária do gabinete do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL); o filho dela, o ex-capitão Adriano, homenageado na Alerj por Flávio Bolsonaro, também era tido pelo MP-RJ como chefe da milícia Escritório do Crime.

Flavio Bolsonaro

A cada dia surgem novas pistas indicando o que há muito tempo já se dizia nos bastidores: a relação da família Bolsonaro com as criminosas milícias do Rio de Janeiro não é só "intriga da oposição".

Raimunda Veras Magalhães, mãe do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, neste momento foragido da Operação "Os Intocáveis" e suspeito de envolvimento com o assassinato da ex-vereadora do Rio Marielle Franco (Psol), foi funcionária do gabinete do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL) e aparece em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras como uma das remetentes de depósitos para Fabrício Queiroz, ex-assessor do parlamentar. O filho dela, o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, homenageado na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) por Flávio Bolsonaro, já foi preso duas vezes, suspeito de ligações com a máfia de caça-níqueis.

Segundo o Coaf, Raimunda depositou R$ 4,6 mil na conta de Fabrício Queiroz. Ela aparece na folha da Assembleia Legislativa do Rio com salário líquido de R$ 5.124,62.

O curioso é que o filho presidente Jair Bolsonaro também homenageou o filho dela, Adriano Magalhães da Nóbrega, que está foragido. Em 2003, o então deputado estadual propôs moção de louvor e congratulações a Adriano por prestar "serviços à sociedade com absoluta presteza e excepcional comportamento nas suas atividades".

Adriano foi preso duas vezes, suspeito de ligações com a máfia de caça-níqueis. Em 2011 ele foi capturado na Operação Tempestade no Deserto, que mirou o jogo do bicho.

Ele também era tido pelo Ministério Público do Rio como o homem-forte do Escritório do Crime, uma organização suspeita do assassinato de Marielle Franco e que nasceu da exploração imobiliária ilegal nas mãos de milicianos. Era formada pistoleiros da cidade e foi alvo da Operação Os Intocáveis, nesta terça-feira (22), no Rio. Suspeitos de matarem a ex-parlamentar e homenageados por Flávio Bolsonaro foram presos (veja aqui).

O policial é acusado há mais de uma década por envolvimento em homicídios. Adriano e outro integrante da quadrilha foram homenageados por Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

Em discursos, Bolsonaro já exaltou milícias e grupos de extermínio

Em um texto publicado em outubro de 2018, o jornalista Bernardo Mello Franco lembra que Bolsonaro já exaltou milícias e grupos de extermínio. “Como seria a política de segurança de um governo Bolsonaro? O deputado já deixou pistas em seus discursos na Câmara. Em agosto de 2003, ele usou a tribuna para elogiar um grupo de extermínio que aterrorizava a Bahia. Acrescentou que o esquadrão da morte teria seu apoio se resolvesse migrar para o Rio. ‘Enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio’, afirmou”.

O jornalista desenvolve seu raciocínio: “o capitão pregou a adoção de uma ‘rígida política de controle da natalidade’. Sem isso, seria ‘baboseira’ investir em escolas e hospitais públicos. ‘Chega de vaselina, de baboseira, de falar em educação, em saúde, porque essa não é a nossa realidade primeira’, disse. Dois meses depois do discurso, o mecânico Gérson Jesus Bispo foi assassinado por denunciar a atuação do esquadrão da morte a uma missão da ONU. Ele acusava policiais militares de torturar e matar seu irmão. Em dezembro de 2008, Bolsonaro elogiou a atuação das milícias no Rio. Ele criticou o relatório da CPI da Assembleia Legislativa que apurou a atuação dos grupos paramilitares. A comissão pediu o indiciamento de policiais, bombeiros e políticos que dominavam favelas. A investigação mostrou que eles lucravam com a cobrança de taxas, a oferta de serviços clandestinos e a venda de apoio político”.

E detalha os comentários dele sobre o Rio: “a defesa das milícias não ficou no passado de Bolsonaro. Em fevereiro deste ano, já como candidato ao Planalto, ele elogiou os grupos paramilitares em entrevista à rádio Jovem Pan. ‘Tem gente que é favorável à milícia, que é a maneira que eles têm de se ver livres da violência. Naquela região onde a milícia é paga, não tem violência’, afirmou”.

Franco conclui falando sobre o problema do que ele defendeu e sobre o fascismo: “o discurso do candidato é desmentido pelos fatos. Investigações da Polícia Civil e do Ministério Público mostram que os grupos paramilitares adotaram práticas do tráfico de drogas. Quem tenta resistir à extorsão é vítima de ameaças, torturas e execuções. Cerca de dois milhões de moradores da Região Metropolitana do Rio já vivem sob o domínio das milícias. Quando Mussolini chegou ao poder, os trens italianos passaram a sair no horário. Em Portugal, o poeta Fernando Pessoa comentou a novidade: ‘A obra principal do fascismo é o aperfeiçoamento e organização do sistema ferroviário. Os comboios agora andam bem e chegam sempre à tabela. Por exemplo, você vive em Milão; seu pai vive em Roma. Os fascistas matam seu pai, mas você tem a certeza que, metendo-se no comboio, chega a tempo para o enterro'”.