Relação com milícias, o próximo escândalo da família Bolsonaro?

Em seu famoso "xadrez" (série de análises sobre a conjuntura política publicada no site GGN), o jornalista Luís Nassif avalia que o governo de Jair Bolsonaro já chegou ao fim e diz que ele será derrubado não apenas pelos rolos de Fabrício Queiroz, como também por sua ligação com as milícias do Rio de Janeiro, que estão sendo investigadas na Operação Quarto Elemento. 

alan e alex

Confira, abaixo, trechos da coluna de Nassif:

Flávio Bolsonaro entrou definitivamente na alça de mira da cobertura midiática relevante com as trapalhadas que cercaram o caso do motorista Queiroz. (…) Nas próximas semanas haverá uma caçada implacável aos negócios dos Bolsonaro. (…) As investigações irão dar inexoravelmente nas ligações dos Bolsonaro, particularmente Flávio, com negócios obscuros por trás dos quais há grande probabilidade de estarem as milícias do Rio de Janeiro.

A Operação que chegará ao centro da questão não é a Furna da Onça, mas a Operação Quarto Elemento.

Deflagrada no dia 25 de abril de 2018 pelo Ministério Público Estadual, destinou-se a desbaratar a maior milícia do estado, que atuava na Zona Oeste do Rio.

Foram presas 43 pessoas. O maior negócio da quadrilha era a extorsão. A ala Administração atuava na 34ª DP (Bangu), 36ª DP (Bangu) e na Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente (DPCA) de Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Identificavam pessoas que seriam alvos de operações e iam na frente, para extorqui-las.

Foram detidos 23 policiais civis, cinco policiais militares, dois bombeiros e um agente penitenciário.

O líder da organização é Wellington da Silva Braga, o Ecko, que assumiu o comando depois da morte de seu irmão Carlinhos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes. Outros irmãos participavam da quadrilha, incluindo Luiz Antônio Braga, Zinho, dono de uma empresa, a Macla Extração e Comércio de Saibro.

O mapa abaixo é incipiente. Foi montado exclusivamente com informações divulgadas pela imprensa do Rio, especialmente jornais O Dia, Extra e G1 e mostra a abrangência de atuação da milícia.

Carlinhos Três Pontes era o cappo da milícia. Morto, foi substituído pelo irmão Wellington da Silva Braga, secundado pelos também irmãos Wallace e Luiz Antônio, conhecido como Zinho.

Vamos ao jogo de relacionamentos:

  1. Zinho é o principal suspeito de ter contratado o assassino da vereadora Marielle Franco. Na campanha, o ato de maior impacto foi o do futuro governador do Rio, Wilson Witzel, comemorando dois brutamontes arrebentando a placa com o nome de Marielle.

 

  1. Na operação foram presos os irmãos gêmeos, PMs Alan e Alex Rodrigues de Oliveira, que atuavam como seguranças de Flávio Bolsonaro na campanha de 2018. Flávio defendeu-se tratando-os apenas como voluntários sem maiores ligações. Fotos no Twitter desmentiam, mostrando intimidade ampla dos Bolsonaro – pai e filho – com os irmãos.

  1. Três PMs membros da organização, e detidos pela operação – Leonardo Ferreira de Andrade, Carlos Menezes de Lima, Bruno Duarte Pinho  – , foram alvos de moções de louvor e congratulações de Flávio, quando deputado estadual. Dizia a moção:

A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, ao longo de mais de dois séculos de imaculada existência, sempre cumpriu seu sagrado dever constitucional de proteção de nossa sociedade. (…) Dentre tais sucessos, merece especial citação e motiva a presente moção o confronto armado em comunidade localizada em Santa Cruz que culminou na prisão de diversos criminosos – dentre eles o chefe de tráfico conhecido pelo vulgo de “Zé da Colina”, possuidor de extensa ficha criminal

Segundo a Operação Quarto Elemento, “o esquema teve início quando os policiais eram lotados na 36ª DP (Santa Cruz) e continuou após a transferência do grupo para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Niterói, a partir de maio de 2017”

O histórico dos Bolsonaro com as milícias


Eleito deputado federal, em 12/08/2003, Jair Bolsonaro proferiu discurso na Câmara defendendo a entrada das milícias no Rio de Janeiro.

Quero dizer aos companheiros da Bahia — há pouco ouvi um Parlamentar criticar os grupos de extermínio — que enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio, porque no meu Estado só as pessoas inocentes são dizimadas.

No dia 17/12/2008, outro discurso defendendo os milicianos das críticas de Marcelo Freixo, do PSOL, marcado para morrer.

Nenhum Deputado Estadual faz campanha para buscar, realmente, diminuir o poder de fogo dos traficantes, diminuir a venda de drogas no nosso Estado. Não. Querem atacar o miliciano, que passou a ser o símbolo da maldade e pior do que os traficantes.

Eleito deputado estadual em 2007, com 43.099 votos, Flávio Bolsonaro passou a integrar a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio. Na época, foi visto com uma camiseta com os dizeres "Direitos Humanos, a excrescência da vagabundagem”.

Na época, frequentava uma comunidade do Orkut “Estuprador merece a morte”.

Em seus discursos, defendia o pagamento de taxa de proteção às milícias por parte dos moradores dos territórios ocupados.

"As classes mais altas pagam segurança particular, e o pobre, como faz para ter segurança? O Estado não tem capacidade para estar nas quase mil favelas do Rio. Dizem que as mílicias cobram tarifas, mas eu conheço comunidades em que os trabalhadores fazem questão de pagar R$ 15 para não ter traficantes".

Flávio atuou fortemente contra a CPI das Milícias e anunciou sua intenção de apresentar um projeto regulamentando a profissão das “polícias mineiras”, termo da época para policiais que atuavam fora dos regulamentos.

A serventia dos Bolsonaro

A Operação Quarto Elemento ocorreu em plena campanha eleitoral. Deu alguma repercussão, mas as informações foram abafadas para não influenciar as eleições e a candidatura de Fernando Haddad.

Àquela altura, mídia, mercado., Círculos Militares, o general Villas Boas, tentavam pegar carona na onda anti-PT. Quando Bolsonaro passou a cavalga-la, foi poupado em nome da causa maior: ele tinha serventia. Agora, não tem mais. Pelo contrário. A cada dia torna-se um peso excessivo para ser carregado por seu maior avalista, o estamento militar.

Não é Sérgio Moro quem está vazando informações. Aliás, Moro está mais agarrado ao cargo que caranguejo na pedra. Muito provavelmente é o próprio MPE do Rio, que há tempos entendeu a extensão do envolvimento dos Bolsonaro com as milícias.

Para ler a íntegra, no site da GGN, clique aqui