Bolsonaro usa prisão de Battisti para escapar de noticiário negativo

Como era previsível, o presidente Jair Bolsonaro correu para as redes sociais para "comemorar" a prisão de Cesare Battisti, detido neste sábado (12) na Bolívia. Depois de 11 dias de noticiário negativo por causa dos tropeços de seu início de gestão, Bolsonaro acredita que pode se escorar na prisão do ex-ativista italiano para reforçar sua cruzada ideológica contra a esquerda e, assim, desviar o foco do noticiário.

Cesare Battisti - Efe

Mal foi divulgada a notícia de que Cesare Battisti foi encontrado na Bolívia, Bolsonaro já se apressou em divulgar mensagens de vingança e de ataques ao PT (cujo governo Lula concedeu refúgio político ao italiano).

Neste sábado (12), Bolsonaro já tinha, sem sucesso, usado as redes sociais para tentar uma manobra diversionista a fim de escapar do noticiário negativo e, particularmente, desviar atenção do rumoroso vídeo do ex-assessor Fabrício Queiroz, conforme relata o jornalista Luís Costa Pinto.

Neste domingo, ao saber da prisão de Battisti na Bolívia, Bolsonaro foi além e quer usar o ex-ativista italiano como troféu, obrigando-o a passar pelo Brasil antes de ser encaminhado à justiça italiana. A Itália, no entanto quer evitar o "circo" e já enviou um avião para a Bolívia, mas como o governo italiano também é dominado pela extrema-direita, não será surpresa se houver um acordo com o governo brasileiro para que se arme um espetáculo em torno da prisão de Battisti com uma passagem do ex-ativista pelo Brasil antes de seguir para a Itália.

Reportagem do jornal Folha de S. Paulo relata que, nos bastidores, o governo Bolsonaro se movimenta para garantir que isso aconteça: "O governo do presidente Jair Bolsonaro está atuando em cooperação com o governo da Bolívia e da Itália para a extradição do italiano Cesare Battisti, preso neste domingo (13). As autoridades brasileiras avaliam que Batistti deveria retornar ao país para depois ser extraditado para o território italiano. Uma reunião de emergência foi convocada no Palácio do Alvorada neste domingo (13) para discutir a prisão."

E prossegue: "os ministros Sérgio Moro (Justiça), Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) chegaram por volta de 10h50 ao local para o encontro com Bolsonaro, que não constava da agenda oficial. Segundo pessoas próximas do caso, ainda não está confirmado se Battisti vai direto para a Itália ou se virá primeiro para o Brasil. Jornais italianos dizem que um avião daquele país foi enviado para a Bolívia."

Pelo Twitter, o procurador Vladimir Aras, ex-secretário de Cooperação Internacional da Procuradoria-Geral da República, disse que há duas possibilidades para o envio de Battisti à Itália.
A primeira seria um novo processo de extradição, pedido pela Itália à Bolívia. A segunda, mais simples, seria a deportação do italiano ao Brasil, uma vez que sua entrada na Bolívia provavelmente foi feita de maneira irregular.

Se o caminho for o novo pedido de extradição italiano, Battisti pode ganhar tempo e tentar se manter no país vizinho argumentando que é vítima de perseguição política. O governo Evo Morales, de esquerda, pode aceitar essa tese e lhe conceder asilo.

Com informações do Brasil247 e Folha de S. Paulo