Compositor cearense Marcus Dias sofre AVC e recebe apoio solidário

Um dos nomes mais destacados da cena musical cearense, com músicas cantadas por artistas como Simone Guimarães (SP) e Leny Andrade (RJ), o compositor, poeta e cantor Marcus Dias, parceiro de artistas como os cearenses Pantico Rocha, Isaac Cândido, Marcílio Homem e Rogério Lima, é o centro de uma forte corrente de solidariedade nos últimos dias, em Fortaleza.

Marcus Dias - Foto: Jr Panela

O artista sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) de grande extensão, em plena madrugada do último dia 1o. de janeiro. A notícia correu os grupos de whatsapp e preocupou a quem ainda celebrava o reveillon, enquanto Marcus foi internado no Hospital Geral de Fortaleza, mantido pelo Governo do Estado do Ceará, onde segue em tratamento.

Rapidamente, uma grande rede de apoio a ele e à família foi formada, com diversas ações. Amigas como as jornalistas Ethel de Paula e Silvia Bessa articularam rapidamente uma campanha de arrecadação de recursos, destinados ao tratamento e à manutenção da família de Marcus e de sua companheira, Angela Serpa, pais de duas crianças. Duas rifas, de uma obra de arte assinada pela fotógrafa Nely Rosa e de uma guitarra semiacústica Hofma, foram lançadas para reforçar a arrecadação de recursos, com contribuições.

Para participar, basta depositar o valor mínimo de R$ 100,00 na conta de Angela (Caixa Econômica Federal, Agência 1888, Operação 013, Conta 25790-0, CPF 648.888.353-49), enviando o comprovante por whatsapp para 85.99973.3054 e escolhendo um número entre 0 e 999. O sorteio será pela loteria federal no dia 26 de janeiro, com os dois números mais próximos recebendo os prêmios.

Dois shows beneficentes estão marcados, para os dias 12 de janeiro (no Cantinho do Frango, espaço da música autoral de Fortaleza) e 30 de janeiro (no Theatro José de Alencar, o mais tradicional da cidade), envolvendo dezenas de artistas em solidariedade a Marcus Dias.


Marcus Dias: uma obra intensa e lírica

Marcus Dias escreve canções e realiza shows autorais desde o final dos anos 80, com destaque, a partir dessa época, para as parcerias com Isaac Cândido e Marcílio Homem. Com grande destaque para suas letras que unem intensidade e lirismo, sentimento e originalidade, beleza e ousadia, tem também canções em que é autor tanto da letra quanto da música.

Várias de suas canções foram registradas em dois discos em parceria com Isaac Cândido ("Isaac Cândido", de 1999, e "Algo Sobre a Distância e o Tempo", de 2005), além de um disco gravado por Isaac Cândido e Simone Guimarães ("Cândidos", de 2010) e três discos em parceria com Pantico Rocha, percussionista, violonista, compositor e diretor musical, nacionalmente aclamado por dividir palcos e estúdio com nomes como Lenine e Maria Bethânia, além de desenvolver um trabalho de formação de novos músicos no pré-carnaval e no carnaval de Fortaleza. São eles: "O Barulho do Sol do Meio Dia" (2007), "Nem Samba nem Sandra nem Mar" (2013) e o novo "Tudo que Passa é Permanente", a ser lançado em breve.

Um escritor de canções

Entre as muitas obras-primas de Marcus Dias e parceiros estão a valsa "Brisa", parceria com Marcílio Homem, em que o poeta transborda: "Redescobrira o amor e andava meio distraído / Imaginava como podem ser tão desiguais / Enquanto alguns amores são como engarrafamentos nas perimetrais / Outros são como brisa umedecendo as folhas dos canaviais / Amores pouco verdadeiros, amores brigueiros, amores normais / Amores que ninguém descreve, amores de conserva, amores naturais / Se fosse descrever o nosso amor, eu só diria: ele é nada mais do que uma leve brisa sobre o para-brisa dos outros casais".

Marcus Dias (à direita) e seu parceiro Isaac Cândido, com que compôs canções e lançou um disco

O maior sucesso do compositor, porém, é a bem-humorada "Os Bêbados", gravada por Isaac Cândido, em que um inteligente desfile de proparoxítonas desafia a moral e os bons costumes. Canção muito indicada para esses tempos de neoconservadorismo: "Sábado é o dia dos bêbados e das moças católicas que vão para a missa rezar pra tentar encontrar… algum bêbado".

Marcus é também um cronista de pegada concreta a retratar sentimentos recônditos no dia a dia de quem se acostumou a anestesiar o olhar, diante de um mundo cada vez mais solitário, desigual, desumano. "Sem nome, sem casa, sem rua, sem praça, sem terra, sem mar / Com os olhos de gente vigia a donzela do primeiro andar / De pele macia, como nunca se encontra do lado de lá / Com sede, com fome, com frio, com medo, com cheiro de bar / Confusão na avenida, uma moça agredida e um homem a chorar", canta em "Descontrole", parceria com Isaac.

Palavra e sentimento

Mas o lirismo vence a desesperança, como em "Disneylândia (Fantasias)": Os vaga-lumes eram magos, eram vigilantes mágicos do palmeiral / As borboletas eram fadas que brincavam pelas tardes do meu quintal / Quem pensaria em solidão? Quem pensaria em solidão? / Eram as flores um presente de algum Deus que olhava a gente contra o mal / E até ficavam mais contentes como as roupas reluzentes no varal / Na ventania um carnaval / Na ventania, como um carnaval / Onde é que a vida virou, que as flores não dançam mais?".

Além de se somar à rede de solidariedade, vale aproveitar o começo de ano para se informar mais sobre as condições de saúde que concorrem para AVCs, procurando se prevenir. Vale também conhecer (e reconhecer) mais a obra de Marcus Dias e parceiros. Nosso angustiado coração neste 2019 que está só começando, merece o alento dessas canções de intensa beleza, como só Marcus sabe fazer, em sua melhor forma de ser e de fazer o ouvinte feliz.

Assista Marcus Dias interpretando uma de sua canções:



Vídeo: Eduardo Freire