Ernesto Araújo anuncia diplomacia brasileira nos braços dos EUA

Ministro das Relações Exteriores assume com pregação fundamentalista e submissa ao regime de Washington. 

Ernesto

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, assumiu o posto reafirmando seus conhecidos chavões estridentes e ocos. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, ele disse que pretende implementar uma política comercial "adequada aos dias de hoje" e não presa ao "globalismo para agradar outras nações". "Os acordos comerciais que o Brasil acertou no passado ou que ainda está discutindo partem de um princípio de submissão. Devemos negociar (com outros países) a partir de uma posição de força", afirmou. "O Itamaraty voltou porque o Brasil voltou", pregou.

Na fala, Araújo fez mais um aceno de submissão à política externa norte-americana ao dizer que vai dar apoio à reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC). O pleito é um dos principais de Donald Trump, que enviou seu secretário de Estado, Mike Pompeo, à posse de Jair Bolsonaro. Araújo elogiou no discurso de posse do seu cargo as políticas externas dos Estados Unidos, de Israel, e de países europeus, como a Itália, a Hungria e a Polônia.

Em sua pregação fundamentalista, Araújo fez uma série de menções em seu discurso. Falou de Renato Russo, Raul Seixas, da emissora de TV norte-americana CNN e citou, em grego, o versículo bíblico "e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará", do Evangelho de São João. Além disso, ele leu, em tupi, a Ave Maria. Na avaliação dele, as pessoas que apoiam o "globalismo" estão "tentando afastar o homem de Deus e é contra isso que nos insurgimos". Araújo disse também que a luta pessoal dele é "pela família e pela vida", consonante com os princípios do presidente Jair Bolsonaro.

Agências norte-americanas

É, sem dúvida, uma ruptura com a prática de inserir o potencial econômico do Brasil, decorrente das suas imensas riquezas naturais e humanas, no cenário internacional de forma soberana. Araújo dá as costas para a integração sul-americana, que, como disse o cientista político e historiador Luis Moniz Bandeira, autor do livro A formação dos Estados na Bacia do Prata, não é aceita pelos Estados Unidos. Segundo ele, a unidade entre Brasil e Argentina — a base do Mercosul —, a mais contestada, seria capaz de formar na América do Sul "um superestado como a União Europeia".

Moniz Bandeira analisa "a grande influência do Brasil" na origem dos "países da América hispânica", um processo histórico que "de alguma maneira continua até hoje". Ele lembrou que "a soma do Brasil com a Argentina é uma potência que, em termos de Produto Interno Bruto (PIB), é quase equivalente à Alemanha e muito superior a todo o resto da América do Sul". Para ele, a política externa dos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff foi mais determinante para o golpe de 2016 do que a política econômica. O governo Lula colocou boa parte do aparato do Estado trabalhando para o aumento das exportações.

Agora, o Brasil volta a ser lançado nos braços da diplomacia norte-americana. Eles escondem do povo brasileiro a informação de que o governo dos Estados Unidos opera pelo menos quatro grandes agências cuja função é abrir portas, fornecer informação e resolver problemas mundo afora em benefício das empresas norte-americanas. Quando há um impasse mais grave ou impossível de ser resolvido pelas agências, o próprio presidente da República entra em cena — muitas vezes ostentando um alfinete do Exército na lapela.